Há encontros que transcendem o óbvio e dão origem a algo verdadeiramente único. No coração do Douro nasceu um projeto que ultrapassa a ideia de simples produção vínica. A Quanta Terra, casa fundada há 25 anos pelos enólogos Celso Pereira e Jorge Alves, reafirma a cada passo a sua visão: criar vinhos que sejam mais do que bebidas de excelência, que sejam também manifestações de cultura e identidade.
É nesse espírito que surge o Quanta Terra Íris, uma edição colaborativa com o artista plástico Alexandre Farto, conhecido mundialmente como Vhils. Limitada a apenas 250 garrafas de cinco litros, esta criação é, simultaneamente, um tributo à autenticidade do Douro e uma obra de arte tangível. O nome não poderia ser mais apropriado: tal como a íris do olho humano, cada garrafa é singular, um reflexo de um olhar, um gesto, uma história.
As garrafas, intervencionadas manualmente por Vhils, tornam-se esculturas em vidro. O artista grava nelas os seus traços característicos, expondo o paradoxo do material – frágil e resistente – e transformando-o num suporte que dialoga com o vinho que guarda. Estas peças estão assinadas e numeradas, assumindo-se enquanto experiência estética e emocional, uma verdadeira fusão entre o gesto artístico e a sensibilidade enológica.
No interior, o vinho confirma essa promessa: profundo, elegante e complexo, com camadas de fruta preta, notas de tinta-da-china e especiarias, envolvidas pela mineralidade que o xisto do Douro imprime. Na boca, uma textura aveludada equilibra-se com taninos firmes, prolongando-se num final marcante. Não se trata apenas de beber um vinho, mas de vivê-lo com tempo, de o contemplar como quem observa uma escultura ou um quadro que, a cada instante, revela novas dimensões.
A Quanta Terra tem vindo a afirmar-se como muito mais do que um produtor de vinhos. O espaço da antiga destilaria da Casa do Douro, hoje palco de iniciativas culturais e de acesso livre, reflete a missão de valorizar o interior e criar pontes entre o vinho, a arte e o território. Não é por acaso que o projeto foi distinguido com o prémio Best of Wine Tourism – Arte e Cultura em 2023 e 2025, reconhecimento do trabalho contínuo em prol da identidade cultural do Douro.
Quanta Terra Íris é, por isso, muito mais do que uma edição limitada. É um manifesto de criatividade, um símbolo de ligação entre a matéria-prima da terra e a visão artística de quem a interpreta. No Douro, onde o tempo molda tudo com paciência, nasce uma obra que convida a olhar, a sentir e a celebrar – uma prova de que, quando a arte encontra o vinho, nasce algo verdadeiramente irrepetível.