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A galeria portuense em que há uma nova exposição a cada 45 dias

Chama-se MANYWHERE. O espaço colaborativo, no qual a criação e a exibição artística coexistem, é da responsabilidade de Lian Ng. O artista malaio chama o Porto de casa desde 2023.

Nova exposição de Lian Ng no Porto, com obras colaborativas num espaço de arte Foto: DR
20 de agosto de 2025 | Patrícia Santos
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Apesar de ser natural da Malásia, onde viveu até se mudar para os Estados Unidos, Lian Ng é uma cidadão do mundo. Aos 59 anos, o designer gráfico já levou a sua obra a destinos como Espanha, Itália, Suíça, China, Cuba e Países Baixos, nos quais teve a oportunidade de contactar com diferentes culturas e descobrir criadores dedicados às mais variadas disciplinas. A Portugal, que acabaria por eleger como nova morada, chegou, pela primeira vez, em 2021. Nem dois anos depois, atraído pela beleza natural e histórica do Porto, que tem “tanto de grandioso como de minimal” e o encanta com as suas texturas, tonalidades e composições, instalou-se na cidade. A uma caminhada de distância da sua casa, abriu a MANYWHERE, uma galeria e estúdio em que não só tem espaço para dar largas à imaginação e criar, como também para apresentar o seu trabalho e o de outros profissionais a quem o visita.

“Queria um sítio que pudesse funcionar como ponto de encontro", explica Lian Ng Foto: DR

É neste atelier amplo e luminoso, inaugurado em maio de 2025, que recebe a Must. Com uma série de colagens, pinturas, fotografias, ilustrações, serigrafias e estruturas geométricas a compor o cenário, o artista plástico fala-nos acerca dos objetivos que o movem e do seu processo criativo. “Queria um sítio que pudesse funcionar como ponto de encontro dos rostos, lugares, métodos e memórias que dão forma ao meu percurso. Algo que fosse representativo de quem sou, das pessoas que conheci, das amizades que fiz, das residências artísticas que integrei, das peças que colecionei e das que vêm de autores a morar no Porto. Uma oficina colaborativa em que técnicas como a gravura, a cerâmica, o design editorial e a tipografia estivessem em evidência”, começa por contar.

Aos 59 anos, o designer gráfico já expôs no Museu de Arte Moderna de São Francisco Foto: DR

Inspirado pela matemática e pelas ciências da computação, as suas áreas de formação, o malaio assina combinações marcadas pelos contrastes, conseguidos ao aliar precisão e poesia, ritmo e detalhe, rigidez e espontaneidade, controlo e abertura. “Os limites de onde as formas emergem e os padrões generativos que permitem aos sistemas evoluir de simples para complexos sempre me fascinaram. O mesmo se pode dizer de conceitos como ordem e variação. Estes interesses acabam, inevitavelmente, por influenciar bastante a minha arte, através da qual procuro estabelecer diálogos entre o analítico e o intuitivo, o construído e o acidental. De que maneira? A utilização de motivos repetitivos, estruturas algorítmicas e composições em grelha são algumas das estratégias a que mais recorro”, acrescenta.

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Ainda que as suas criações sejam, maioritariamente, resultado da gravura em grande formato sobre papel de algodão, Lian Ng não deixa de explorar outros materiais. Na sua prática, que se aproxima do Minimalismo Abstrato e do Movimento de Arte Concreta, tem trabalhado também “o papel japonês washi e o papel de arroz chinês, com técnicas como gravura em relevo com grafite, serigrafia com tipografia, aguarela com lápis de cor e gravação em fotopolímero”, conta.

A ideia é disponibilizar uma nova exposição a cada 45 dias Foto: DR

“Samurai 01”, uma pintura realizada por cima de folhas individuais de papel japonês washi, aplicadas em várias camadas para criar diferentes tonalidades de cinzento, e “Lamination 08”, fruto de pequenas dobras e pinturas em papel de arroz chinês, posteriormente humedecidas para provocar a ondulação das camadas de papel, são duas das peças do portefólio do fundador que ocupavam as paredes da MANYWHERE durante a nossa visita. A ideia, contudo, é disponibilizar uma nova exposição — individual ou coletiva sob temas específicos — a cada 45 dias. Obras de nomes internacionais como Barry Ebner (monotipia), Margarit Lehmann (técnica mista) e Babette Cooijmans (técnica mista) encontram-se entre as que vai poder apreciar no futuro. Para não perder nenhuma, basta estar atento ao site da galeria.

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"Pushing Water" Foto: DR

Ao longo da sua carreira, Lian Ng já viu os seus trabalhos serem integrados nas coleções permanentes de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Francisco (Estados Unidos), a Guangzhou Academy of Fine Arts (China) e a Tipoteca Italiana di Cornuda (Itália). Enquanto designer gráfico, que foi a profissão com a qual iniciou a sua prática, colaborou com marcas tão distintas quanto RH, Uber, Nike, Kohler e Starbucks. Nessa época, materiais impressos, branding, embalagens, grafismo para retalho e design ambiental eram as suas principais ferramentas.

Onde? Rua do Duque da Terceira, 358 (Porto). Horário? Quarta a sábado, das 14h às 19h. Reservas? 91 295 2978 / manywheregallery@gmail.com.

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