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La Mamounia. O ícone de Marraquexe celebrado no novo livro de Laurence Benaï

Mais do que um hotel, La Mamounia é um espelho da alma de Marraquexe, onde tradição, luxo e hospitalidade se encontram. Em setembro de 2025, um novo livro da Assouline presta homenagem a este lugar lendário, revelando a sua história, os seus segredos e o fascínio intemporal que conquista gerações de viajantes.

©Alan Keohane Foto: ©Alan Keohane / ©Assouline
09 de setembro de 2025 | Safiya Ayoob
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Há hotéis que ultrapassam a sua função e se tornam parte da identidade de uma cidade. Em Marraquexe, esse lugar chama-se La Mamounia. Não é apenas um endereço no bairro do Hivernage, a passos das muralhas e da Jemaa el-Fna; é um imaginário inteiro feito de luz, sombras e silêncio fresco sob a folhagem. O cantor e escritor Charles Aznavour, que a conheceu bem, dizia que ali se condensavam “sol, gentileza, bom gosto e calma”. Winston Churchill, antigo primeiro-ministro do Reino Unido, hóspede fiel, considerou-a um dos lugares mais belos do mundo - e quem atravessa os pátios em mosaicos Zellige, sente o cheiro do cedro talhado e o brilho do tadelakt, percebe porquê.

A história do hotel nasce da paisagem. Muito antes da inauguração, em 1923, os jardins que hoje lhe dão alma eram conhecidos como Arset El Mamoun, oferecidos no século XVIII ao príncipe Moulay Mamoun. O hotel cresceu a partir desse legado verde, abrindo-se em arcadas, fontes e sombras, num diálogo constante entre a arquitetura hispano-mourisca e a artesania marroquina. Ao longo do século XX e início do século XXI conheceu renovações marcantes - a grande intervenção de 2009, que devolveu intensidade cromática e teatralidade aos interiores, e um refresh recente que repensou restaurantes e espaços comuns - sem nunca perder o fio à tradição.

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La Mamounia, espelho da alma de Marraquexe, celebra tradição, luxo e hospitalidade Foto: ©Anson Smart / ©Assouline

Esse equilíbrio entre memória e presente explica o fascínio persistente. La Mamounia tem sido palco de encontros improváveis e estadias discretas: de Jacques Brel a Juliette Binoche, de Joan Collins a Salma Hayek, de Adrien Brody a Jennifer Aniston, passando por gerações de viajantes para quem o hotel foi refúgio e cenário. Não é só o luxo, são os rituais: o chá de hortelã nos pátios, o tempo dilatado do hammam, o percurso entre laranjais e oliveiras até à luz da tarde. Nos últimos anos, a vocação gastronómica ganhou fôlego com parcerias de assinatura e salas redesenhadas, aproximando a experiência da cidade contemporânea sem trair o espírito da casa.

Reconhecimentos não faltam. Em 2015, conquistou nos World Travel Awards o título de melhor hotel do mundo, distinção a que se somaram coroações de leitores e críticos, entre elas as de 2018 e 2021 da Condé Nast Traveler. Mas os prémios, por si, explicam pouco. O que sustenta a aura é a maneira como o hotel se relaciona com quem o faz: carpinteiros, estucadores, mestres do gesso, do metal e da pedra que perpetuam técnicas ancestrais; jardineiros que afinam, dia após dia, o equilíbrio entre o terreno e a água; equipas de hospitalidade que tratam cada chegada como um regresso.

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La Mamounia, em Marraquexe, é um espelho da alma da cidade, com tradição, luxo e hospitalidade Foto: ©Anson Smart / ©Assouline

É precisamente essa teia de pessoas, gestos e detalhes que o novo volume da Assouline, La Mamounia Marrakech, a publicar em setembro de 2025 na coleção “Hospitality”, vem celebrar. Laurence Benaïm, jornalista e escritora com um olhar treinado nas histórias do estilo e da elegância, conduz-nos por dentro do mito com a naturalidade de quem conhece cada sussurro da casa. Autora de biografias de referência - de Yves Saint Laurent a Marie-Laure de Noailles e Jean-Michel Frank - e de títulos que mapeiam afinidades entre moda, arte e cidades, Benaïm entende que um grande hotel é um organismo vivo: feito de partidas e regressos, de épocas e modas, de obras e pausas, de uma continuidade que só existe quando há mão de obra e memória.

La Mamounia Marrakech, novo livro de Laurence Benaïm, revela a história e encanto do hotel icónico Foto: «©Assouline

O livro da Assouline não se limita a reunir belas imagens. É um ensaio sobre hospitalidade enquanto cultura material e imaterial: a gramática dos azulejos, a música das fontes, a dança da luz nos corredores, o tempo que se mede pelo serviço de chá ou pelo cair da noite sobre a palmeiral. É também um retrato de Marraquexe, a cidade que respira através da medina, do souk e das novas centralidades, visto a partir de um observatório privilegiado que, sem se isolar, sempre preservou o seu ritmo próprio.

Num mundo em que os hotéis se parecem uns com os outros, La Mamounia continua a ser exceção: reconhecível sem ser previsível; clássica sem rigidez; marroquina sem folclore. Talvez seja isso que a torna inesquecível para quem fica e inesgotável para quem escreve sobre ela. La Mamounia Marrakech, de Laurence Benaïm, promete fixar em páginas essa experiência que normalmente se vive a caminho de um átrio, à sombra de uma colunata, ao som de uma fonte.

La Mamounia, em Marraquexe, reflete tradição e luxo com jardins e arquitetura hispano-mourisca Foto: ©Anson Smart / ©Assouline
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