O Centro Cultural de Cascais acolhe, até dia 11 de janeiro, uma exposição temporária da artista plástica Joana Leitão Salvador intitulada Imagens Inacabadas. A mostra apresenta mais de 100 obras de pintura e escultura, criadas entre 2003 e 2025, sendo representativas de mais de 20 anos de trabalho da artista. Entre as peças, onde o elemento feminino assume um papel central, destacam-se pinturas, de pequeno e médio formato, em guache, encáusticas e monotipias, bem como esculturas em cerâmica (faiança e grés), incluindo figuras evocativas de deusas da fertilidade, bocas abertas, bustos e potes. No universo artístico de Joana Leitão Salvador entram memórias familiares, afetos e questões existenciais que se entrelaçam.
O trabalho da artista parece focar-se muito no quotidiano íntimo, nas emoções pessoais, na nostalgia e nos momentos simples, com um forte contraste nas cores escolhidas, ora garridas, numa escolha quase pueril, ora sombrias, a remeter para um universo tenebroso, pleno de naturezas mortas. São, todas elas, Imagens Inacabadas sobre as quais o visitante é convidado a refletir para encontrar formas de as acabar, ainda que apenas dentro da sua cabeça – por favor, deixe os pincéis e as aguarelas em casa.
O que é que falta na pintura dos nadadores que parecem estar a afogar-se e a pedir socorro? Ou naqueloutra em que os mesmos nadadores deslizam placidamente sobre as águas (ou parecem fazê-lo)? O que há de incompleto, afinal, numa jarra de flores, ou na mesa de trabalho? Um exercício que pode tornar-se perturbador, quando nada parece faltar e, no entanto, sabemos que falta. Um desconforto tantas vezes sentido na vida real e que é trazido para o mundo da arte pela mão conhecedora e generosa de Joana Leitão Salvador.
A artista nasceu em Lisboa, em 1971, de onde saiu com a família, aos dois anos de idade, rumo a Paris. Viveu na Suécia, onde chegou com três anos, e para onde a família se exilou por motivos políticos. Por lá ficou até aos 18 anos. Porém, regressava a Portugal todos os verões, para estar com a avó, a pintora Menez (1926–1995), que lhe transmitiu os primeiros ensinamentos de pintura e desenho. Essa ligação atravessa a obra da artista e ganha expressão, por exemplo, em pinturas que retratam pincéis, objetos de trabalho e símbolos de memória e continuidade entre gerações.
Formada em pintura, desenho e ilustração na Ar.Co, e em tapeçaria e cerâmica na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Joana Leitão Salvador desenvolveu uma linguagem visual marcada por paisagens imaginárias, figuras ambíguas e cores vibrantes. A prática da artista convoca técnicas diversas, num diálogo constante entre tradição artesanal e experimentação contemporânea.
Onde? Centro Cultural de Cascais, Avenida Rei Humberto II de Itália, Cascais. Horário? Terça-feira a domingo, das 10h às 18h Preço? 5 euros, com diversos descontos.