Negócios do Luxo

Arte e vinho, o sonho alentejano de um milionário inglês

Com uma fortuna amealhada na área financeira, o britânico Howard Bilton nunca deixou de sonhar com arte contemporânea e vinhedos de excepção. Em Estremoz, criou o espaço Howard's Folly, que é adega, restaurante e uma galeria de arte muito especial.

Howard Bilton criou Howard's Folly, espaço com adega, restaurante e galeria de arte em Estremoz, Alentejo Foto: DR
04 de setembro de 2025 | Maria João Martins
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Chama-se Howard’s Folly e não podemos imaginar nome mais adequado se considermos que o termo folly designa uma extravagância feliz. O homem que apresenta o seu empreendimento em Estremoz desta forma desassombrada é o milionário britânico Howard Bilton, que, num antigo armazém de cereais no coração do Alentejo, criou uma adega que é também um restaurante e uma galeria, onde dá a ver parte da sua impressionante coleção de arte contemporânea, ao mesmo tempo que aposta em novos valores nacionais. Uma adega diferente de todas as outras, em que, ao entrarmos, encontramos logo as miniaturas de todos os automóveis usados na saga 007, desde Sean Connery a Daniel Craig.

A fachada da adega Howard's Folly Foto: DR

Como nos conta o filho de Howard, Tom, que vive entre Lisboa e Estremoz, este espaço singular teve umas quatro ou cinco inaugurações oficiais, já que abriu ao público nesse ano de sonhos adiados por causa da pandemia, que foi 2020. No centro de tudo isto, podemos dizer que está o vinho, misto de paixão e área de negócio em que o empresário conta com a cumplicidade, e a sociedade, do enólogo australiano, há muito radicado em Portugal, David Baverstock.

David Baverstock, enólogo australiano há muito radicado em Portugal Foto: DR

Em época de vindimas, comecemos por aqui. As uvas vêm de uma região com características muito particulares na geografia vinícola alentejana: o parque natural da Serra de São Mamede, já nas imediações de Portalegre. Quem no-lo assegura é a viticultora Cristina Francisquinho, com uma longa carreira de consultora ao serviço de algumas das grandes marcas de vinho alentejano: “Ao contrário do que acontece no resto do Alentejo, esta é uma região com um clima ameno, geralmente caracterizada por grandes amplitudes térmicas, mesmo no pino do verão.” O que, no entanto, não aconteceu este ano, já que “tivemos muita chuva no inverno e primavera e um período de calor muito prolongado no verão, sem grande arrefecimento noturno.” Apesar dessas dificuldades, os trabalhos prosseguem a bom ritmo, com as uvas ainda frescas, integralmente colhidas à mão, a rumarem à adega, incluindo as provenientes da vindima noturna, realizada na Tapada do Falcão.

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Vinhas Howard's Folly Foto: DR

Uma vez em Estremoz, as uvas são trabalhadas por uma pequena equipa liderada pelo enólogo David Baverstock, um australiano "que se sente em casa no Alentejo" e que tem como principal cartão de visita três décadas de trabalho ao serviço da Herdade do Esporão, onde foi chairman winemaker. Por isso, quando Howard Bilton quis produzir vinhos alentejanos um pouco diferenciados do perfil mais convencional, não hesitou em desafiar David a juntar-se a ele. Dessa parceria surgiu já “uma paleta de vinhos mais leves do que os tradicionais desta região”, como O Sonhador, rosé, branco ou tinto. Ou ainda o Carcavelos, “espécie de tesouro em vias de extinção, produzido na zona de Caparide, perto de Lisboa, que deixou Howard completamente encantado com este vinho fortificado de excepção, à altura dos melhores Madeira ou Porto.”

As uvas são trabalhadas por uma pequena equipa liderada por Baverstock Foto: DR

Estes e outros vinhos podem ser comprados nas melhores garrafeiras do país (ou na loja online do Howard’s Folly) ou degustados no restaurante The Folly, a dois passos das barricas de carvalho francês onde vão envelhecendo as próximas colheitas. Para assegurar a melhor experiência ao visitante estão lá o diretor do restaurante, Artur Simões, e o chef Alan Alves, que procurarão a melhor harmonização entre vinhos e pratos. A preferência, afirmam, vai sempre para os produtos locais, com destaque para as carnes de porco e borrego, de excelência no Alentejo, e para os legumes, sem esquecer o sabor tão característico de ervas aromáticas como o poejo.

O restaurante The Folly é comandado pelo diretor Artur Simões. Na cozinha, está o chef Alan Alves Foto: DR

A opção pelo tradicional não significa, porém, ausência de risco. Artur Simões recorda-nos, por exemplo, como surpreendeu um grupo de clientes ao servir Carcavelos (um vinho fortificado, habitualmente servido à sobremesa) para acompanhar um prato de carne com curry.  Na nova carta do The Folly, inaugurada há duas semanas, podemos encontrar propostas tão inesperadas como camarão tigre em cama de focaccia, risotto de abóbora e noz pecã ou presa de porco preto com puré de castanhas.

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Galeria de arte Howard's Folly Foto: DR

Não menos importante, nem sequer decorativa, é a aposta de Howard Bilton na arte contemporânea. A fundação Sovereign Art foi criada em 2003, com o propósito de a levar a comunidades em que ela não é uma presença comum. Neste momento, atua em vários pontos de África, Ásia e também em Estremoz, onde conta com uma auxiliar preciosa como é Susana Corda, engenheira de ambiente convertida, de alma e coração, à causa da terapia pela arte para crianças carenciadas ou com necessidades especiais: “Trabalhamos em parceria com a equipa de intervenção precoce de Estremoz e somos nós que asseguramos o pagamento dos terapeutas e o custo dos materiais usados nas sessões. As famílias só têm que aparecer.” De referir. ainda a este propósito, que os rótulos dos vinhos Howard’s Folly são pintados por estas crianças, pelo que uma percentagem da venda de cada garrafa reverte para a Sovereign Art.

O milionário britânico Howard Bilton é o fundador da Howard's Folly Foto: DR

Paralelamente a estas ações, a fundação promove, em Portugal, um prémio profissional de arte, no valor de 25 mil euros, e outro, de 5 mil, para estudantes do Ensino Secundário de todo o país, cujas candidaturas são apresentadas pelas respectivas escolas. Os trabalhos deste ano estão expostos, neste momento, no Howard’s Folly em Estremoz e, em novembro, poderão ser vistos na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa.

O Sonhador é uma das propostas da companhia Foto: DR

No Howard’s Folly, a arte está literalmente por todo o lado. Lá estão, por exemplo, os graffiti pintados por artistas locais à volta do campo de padel e dos automóveis vintage da coleção do proprietário, mas o protagonismo vai todo para os porcos em fibra de vidro pintados com os mais diversos motivos quer por artistas profissionais, quer pelas crianças das escolas de Estremoz. Todos participaram numa grande parada, realizada na cidade, a 15 de março último. Na origem do amor a estes animais, conta-nos Tom Bilton, está o facto da “Sovereign Art ter iniciado atividade em Hong Kong, em 2003, em pleno ano do porco.”

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O bar da Howard's Folly Foto: DR

Para desfrutar deste ambiente único, o visitante pode ainda optar por uma estadia mais prolongada num dos três alojamentos locais que o Howard’s Folly tem em Estremoz. É uma proposta que conjuga arte e tranquilidade, regada por vinhos de excepção. Quer maior luxo?

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