A que horas se costuma levantar?
Os meus dias nunca são iguais e, por isso, é difícil para mim relatar uma rotina formatada do meu dia. Tudo depende da fase do ciclo da vinha e dos projetos que estão a decorrer, assim os meus dias são sempre diferentes. Mas se tiver de descrever um dia mais calmo, apenas dedicado à vinha e ao acompanhamento das equipas, então diria que me levanto pelas 6:30 para ter tempo de organizar o meu dia antes de sair de casa.
O que costuma refletir/ponderar/pensar nos primeiros minutos acordado?
Gosto de começar o meu dia a pensar no que tenho planeado em agenda.
Qual é a sua rotina quando se levanta?
Num dia calmo, preparo-me para sair e sigo para a vinha. Durante o pequeno-almoço vejo as mensagens da equipa e muitas vezes vejo as previsões meteorológicas para saber o que me espera.
Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?
Costumo tomar um pequeno-almoço leve. Normalmente iogurte grego com frutos silvestres.
Costuma haver algum tipo de atividade antes do trabalho?
Sim. Costumo fazer alguns exercícios e alongamentos, cerca de 15 minutos, para trabalhar a flexibilidade e começar o dia com o corpo desperto. Ajuda-me a manter o foco e a energia ao longo do dia.
Qual é o seu trajeto diário? Como o faz? A pé, automóvel, transportes…
Normalmente de carro, de casa até à adega. Gosto de observar a evolução das vinhas durante o caminho.
Tem algum tipo de preparação prévia para o trabalho?
Sim, a primeira coisa que faço quando chego à adega é rever análises, planear provas e alinhar prioridades com a equipa. É essencial começar o dia com clareza.
A que horas começa a trabalhar?
Depende muito dos dias. Em condições normais, pelas 8:00 já estamos a trabalhar. Na vindima, começamos antes do nascer do sol.
Quais são as suas principais tarefas e responsabilidades no trabalho?
Já conto com 40 anos de carreira, acumulei conhecimento e experiência. O que procuro, no meu dia-a-dia, é usar essa experiência para inovar: um enólogo, verdadeiramente apaixonado pelo que faz (e eu sou muito apaixonado pelo que faço!) aprende todos os dias. Cada vinha, cada parcela é um desafio e uma oportunidade de inovar. O que procuro é passar esta experiência à criatividade e paixão de uma equipa jovem. Não tenho dúvida que, juntos, estamos a criar alguns dos melhores vinhos portugueses – e vamos criar outros tantos no futuro.
Como gere o seu tempo?
Com flexibilidade: o vinho dita parte do ritmo. O resto é organização e confiança na equipa.
Como lida com a pressão e o stress?
A experiência ensina a manter calma. Quando o vinho fala, é preciso ouvi-lo, sem o forçar. A serenidade traz as melhores decisões.
Qual é a parte favorita e menos agradável do trabalho e porquê?
A parte que mais me entusiasma é desenvolver um novo vinho e perceber o momento exato em que ele ganha vida. É uma combinação de técnica, experiência e intuição que continua a emocionar-me depois de tantos anos. A menos agradável surge nas fases de decisões rápidas em plena vindima, quando tudo é crítico ao minuto. É um período intenso, em que a margem de erro é mínima e a pressão é constante.
Tem uma equipa a trabalhar consigo? Como gere a comunicação com eles?
Sim, enólogos, técnicos e viticultores. A comunicação é direta, prática e diária, muito baseada em provas em conjunto e decisões partilhadas.
Costuma fazer pausas no trabalho? Para?
Sim, pausa curta para café e para limpar o palato entre provas mais intensas.
Interrompe o trabalho para almoçar? O que costuma comer e onde?
Sim, faço sempre uma pausa para almoçar. Quando estou na Ravasqueira, almoço no refeitório, o que é ótimo para conversar de forma descontraída com a equipa da adega. É um momento simples, mas muito útil para fortalecer o espírito de equipa e trocar impressões sobre o dia.
Como lida com eventuais críticas e elogios ao seu trabalho?
Com tranquilidade: críticas ajudam a evoluir, elogios servem para confirmar que estamos no caminho certo.
O que diria sobre a ideia de que as pessoas com quem se relaciona profissionalmente têm de si?
Talvez tenham respeito pelo meu percurso como enólogo. Sempre me mantive muito aberto: não guardo segredos e respondo a praticamente todas as perguntas que me fazem sobre o trabalho. Acredito que as pessoas apreciam essa transparência. Também sinto que veem com simpatia o facto de eu ser um estrangeiro que acabou por se tornar, de certa forma, português. Esta pergunta é difícil, claro, mas diria que me veem como alguém acessível e disponível.
Ao longo do dia dá importância às redes sociais?
Não utilizo redes sociais e, sinceramente, não lhes vejo grande importância. Prefiro realidade à virtualidade: estar presente no dia-a-dia e nas conversas reais com as pessoas que me acompanham.
Tem hobbies ou atividades que faz regularmente?
Sim, gosto de manter-me ativo: jogo padel, ténis de mesa e ténis. Além disso, gosto de ler, o que me ajuda a relaxar antes de adormecer. Atualmente estou a ler a autobiografia de Woody Allen.
A que horas costuma terminar a atividade profissional?
Depende. Como disse, os meus dias nunca são exatamente iguais. Há dias em que consigo estar em casa pelas 18:00, e outros que se estendem bastante mais.
“Leva” trabalho para casa?
O trabalho mistura-se, inevitavelmente, com a vida pessoal. Mas, ao longo dos anos, aprendi a distanciar os dois. Em casa, o foco é a família, sobretudo tempo de qualidade com os meus netos.
Costuma conversar com alguém sobre a sua atividade no final do dia?
Sim, felizmente a minha família acompanha o meu percurso com interesse e conversamos muito sobre isso. É uma forma saudável de partilhar e “fechar” o dia.
Costuma viajar com frequência nas suas atividades profissionais?
Sim, bastante. Entre feiras, eventos e visitas a importadores, tenho várias deslocações ao longo do ano. É cansativo, claro, mas também é um lado do trabalho que me agrada porque aprendo sempre alguma coisa nova.
Há muita diferença entre os dias da semana e os fins de semana?
Cada vez mais. Valorizo muito o meu tempo em família e ao longo dos anos, com a construção de equipas sólidas, consigo ter mais fins de semana para mim e para a minha família. Acho fundamental termos um tempo para desligar do dia-a-dia.
Quais são os seus hábitos de jantar? Horário e exemplo de menu?
O meu horário de jantar é simples e comum. Igual ao de toda a gente. Pelas 19:30 ou 20:00 gosto de jantar. Em termos de menu, confesso que cada vez mais dou preferência a refeições equilibradas e leves.
O que faz antes de dormir?
Costumo ver televisão, principalmente para me atualizar com as notícias, e depois gosto de ler cerca de meia hora. Como disse, a leitura ajuda-me a relaxar.
A que horas se costuma deitar e quantas horas dedica ao sono?
Infelizmente, o sono também depende dos dias (sobretudo durante a vindima). Mas, em condições normais, procuro dormir de 7 a 8 horas, que é o ideal para me manter focado.
Como mantém o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional?
O equilíbrio vem sobretudo de ter uma equipa jovem, profissional e muito motivada. Confio plenamente no trabalho que fazemos juntos e no valor que entregamos. Essa confiança permite-me delegar, respirar e manter espaço para a vida fora da adega, o que é essencial para continuar a criar vinhos com clareza e intenção.
Vê-se a ter outra profissão?
Depois de tantos anos, não me imagino a fazer outra coisa. O vinho acompanhou-me em todas as fases da vida. Foi através dele que cresci como profissional e como pessoa. Há outras áreas que me fascinam, claro, mas nenhuma me completa como a enologia.
O que mais gostaria que mudasse no futuro?
A cultura do consumo de vinho enfrenta várias ameaças. Gostava que o vinho continuasse a ser visto como um produto culto e civilizado, valorizado pelo seu património e qualidade. Outra coisa que gostava muito que acontecesse era que os restaurantes pudessem disponibilizar vinhos a preços mais razoáveis, tornando-os mais acessíveis sem perder a sua essência.