Isto Lembra-me Uma História: Este é o Festival da Eurovisão: entre a modernidade e a tradição
No rescaldo da cerimónia de sábado, que decorreu em Liverpool, Inglaterra, importa olhar para o histórico festival, ganho pela sueca Loreen, e que contou com a portuguesa Mimicat.
Vejo a Eurovisão como acredito que se deve ver a Eurovisão. Com um misto de fétiche e de curiosidade, puxando saudavelmente, mas sem entrar em delírios de seriedade, pelos artistas ou canções que considero merecedores do meu apreço. Nem sempre a questão é musical. Por vezes, a estética da indumentária, a coreografia, os arranjos, a atitude, a beleza dos intérpretes ou tão simplesmente o país de origem ou aquele que representam, fazem com que queira que fulano ganhe ou que sicrano perca.
Todavia, a parte que mais me entusiasma na Eurovisão é a da luta e das mudanças na tabela classificatavia. Há qualquer coisa de, por um lado, místico, por outro, de aleatório na evolução de lituânias e de eslovénias naquela lista composta por pontos que, na verdade, temos dificuldade em discernir de onde vêm. Chegámos a um ponto em que, com a pontuação a vir em doses separadas, o processo eleitoral da Eurovisão se tornou tão pouco claro como os sufárgios eleitorais de democracias como a russa ou a norte-coreana.

Houve um tempo em que uma parte substancial do interesse e da emoção do Festival Eurovisão da Canção residiam na longa maratona de telefonemas feitos pelos apresentadores para uma capital europeia de cada vez. Estabelecida a ligação, que não raramente caía ou sofria perturbações, surgiam os representantes da televisão desse país que detinha a inscrição na Eurovisão - normalmente, um par composto por homem e mulher, de preferência eles próprios apresentadores televisivos (por cá, importa recordar a presença recorrente e omnipresente de Eládio Clímaco, figura que desempenhou vários papéis relacionados com as cerimónias).
Uma vez feitas as apresentações - "boa noite, Jean-Piérre, boa noite Anne-Marie, boa noite a todos os franceses e a todos os europeus que nos escutam, aceitem um abraço daqui de La Valletta" - e os agradecimentos, os representantes passavam a anunciar as votações do seu país: Finlândia, um ponto; Áustria, dois pontos; Espanha, três pontos. Por aí fora, até culminar nas pontuações nobres, a seguir aos oito pontos: os 10 pontos para alguém e, em princípio, tratando-se da votação de Malta, os 12 pontos para a vizinha Itália.
Portugal nunca ganhava muitos pontos. É, aliás, uma tradição que se mantém e Mimicat que o diga - ainda assim, veio de Inglaterra com 59 pontos e um 23.º lugar, depois de ter superado as meias-finais, o que é obviamente positivo. Salvo algumas exceções ao longo da história - entre as mais recentes, lembro-me, de cabeça, da prestação muito honrada de Lúcia Moniz e da óbvia e estrondosa vitória do colosso musical que é Salvador Sobral, e pouco mais -, Portugal foi sempre aquele miúdo vizinho que os pais convidam para a festa de aniversário do filho porque ficava mal não o fazer. Participamos, vamos à festa, mas ficamos a um canto, a ver os outros. Rimo-nos, achamos bonito, tudo cheio de glitter e de confetes, luzes, neons e às vezes fogo de artifício, dependendo do gosto, da relevância e do poderio financeiro de cada país participanete. Diz-se que, por cá, a RTP não teve orçamento nem para mandar sequer um sofá para Mimicat, de onde resultou aquela prestação num cenário tão singelo, tão simples, tão cru. Como termo de comparação, vejam-se não só a instalação quase jaula sem grades que os suecos providenciaram à vencedora Loreen, mas também o avultado investimento que a televisão sueca fez nas longas unhas desta veterana, que repetiu em Liverpool a vitória de há 11 anos em Baku, no Azerbaijão. Há quem tenha nascido para ganhar a Eurovisão. Esta foi apenas a segunda vez na história do eurofestival que um intérprete repetiu a vitória. Antes de Loreen, somente o irlandês Johnny Logan conseguiu o feito, vencendo em 1987, com Hold Me Now, depois ter conquistado o título - como se diz no futebol - em 1980, com a canção What’s Another Year.

As historicamente discretas, quando não mesmo fracas, pontuações e classificações de Portugal terão outras explicações que vão além da qualidade musical e do investimento em mobiliário e adereços. Acredito que a localização geográfica e a relevância geopolítica e geoestratégica são fatores a ter em consideração. Imagine-se o Luxemburgo, por exemplo, que tem cinco vitórias. É um país pequenino, sem dúvida, mas que fica estrategicamente encravado entre a Bélgica, a Alemanha e a França, que faz parte do Benelux, que deu origem à União Europeia do Carvão e do Aço, que, por sua vez, esteve na génese da Comunidade Económica Europeia, que entretanto se transformou sumariamente em União Europeia, que hoje em dia tem, dentro de si, a chamada Zona Euro, onde todos os países usam a mesma moeda, embora uns possuam muitas mais moedas do que outros (e o Luxemburgo está entre os primeiros). Adiante: o Luxemburgo é, obviamente, um país a respeitar, que convém tratar nas palminhas. Quem diz Luxemburgo, diz Bélgica (uma vitória) e Países Baixos (cinco vitórias), que têm precisamente a mesma relevância que os luxemburgueses, mas que têm um peso populacional muito superior - juntos, fazem o tamanho de Portugal, mas com uma população combinada de mais de duas vezes e meia a nossa (são aproximadamente 28 milhões de habitantes somando os dois países).

Portugal tem o quê? Plantado junto ao mar na ponta mais extrema do continente, caso desaparecesse do mapa a consequência imediata mais visível seria a implantação de regiões balneares em lugares tão surpreendentes como as províncias de Cáceres ou de Salamanca. E ainda assim, os espanhóis, que só teriam a ganhar com essa situação hipotética, tratam-nos com histórica simpatia - também pode ser condescendência, ou ainda paternalismo, nunca saberemos - e costumam dar-nos pontuações razoáveis. Também é possível que sejam dos poucos que entendem as canções cantadas em português.
O festival tem mudado ao longo dos tempos, mas há características e tradições que se mantêm, e isso é bom, de certo modo reconfortante. É pena que as votações tenham perdido o charme dos longínquos anos 80, mas é sempre bom saber que a Suécia enviará o mais pop dos produtos e que, em princípio, a Espanha nos dará pelo menos sete pontos.
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