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É possível "fabricar" carisma sem o ter? Este método prova que sim

Nos últimos anos, as investigações têm demonstrado que o carisma não resulta de alguma qualidade inata, nem se trata simplesmente de sorte. Em Aprenda a Ser Carismático, Olivia Fox Cabane concede as técnicas para se conseguir uma personalidade magnética.

Foto: IMDB
12 de julho de 2022 | Pureza Fleming

Há coisas que o dinheiro não compra: classe, charme, bom gosto, até estilo. Mas o que dizer quando se fala em carisma? Quando conhecemos alguém e consideramos essa pessoa carismática, com certeza que o nosso pensamento não é "como é que esta pessoa se tornou carismática?". É-nos, pura e simplesmente, transmitida uma sensação agradável por parte dessa pessoa. A par das características citadas acima, o carisma parece ser uma daquelas qualidades que nasce com a pessoa: ou se tem ou não se tem. Mas, pelos vistos, não é bem assim.

Por que é que consideramos alguém carismático?

A resposta é: não sabemos. Se lhe pedirmos que nomeie alguém que considere carismático e encantador, a resposta pode ser previsível. Talvez mencione uma figura histórica, como Martin Luther King Jr. ou Mahatma Gandhi; ou se calhar prefere destacar alguém como Oprah Winfrey ou o Papa Francisco. Instintivamente, sabemos que somos mais atraídos por certas pessoas do que por outras, porém não é fácil definir o carisma  e muito menos explicar por que é que umas pessoas são carismáticas e outras não.

Os antigos gregos descreviam o carisma como um "dom da graça", uma descrição adequada se acreditarmos que a simpatia é uma característica concedida por Deus que vem naturalmente para alguns, mas não para outros. A verdade é que o carisma é um comportamento aprendido, uma habilidade que se desenvolve da mesma maneira que aprendemos a praticar um novo desporto ou a tocar um instrumento. E, como tal, requer trabalho, prática, e o conjunto certo de ferramentas. Outros traços desejáveis, tais como a riqueza ou a aparência, estão indubitavelmente ligados à simpatia, mas nascer sem nenhum dos dois não o impede de ser carismático.

Num artigo publicado no The New York Times a propósito do tema, o professor de comportamento organizacional da Universidade de Lausanne, na Suíça, John Antonakis, observa que o carisma, na sua forma mais básica, resume-se a um sinal de informação. "Basicamente, o carisma tem tudo a ver com sinalizar informações de uma maneira simbólica, emocional e baseada em valores", especificou. "Assim, a sinalização do carisma tem a ver com o uso de técnicas verbais  o que se diz — e não verbais." Para efeitos de comparação, o que Antonakis descreveu é essencialmente uma versão mais simples da teoria da resposta de luta ou fuga. Em vez de lutar ou de fugir, são tomadas constantes microdecisões sobre se a pessoa que exige a nossa atenção a merece ou não.

Os pilares do carisma

Em Aprenda a Ser Carismático (Casa das Letras, 2022), Olivia Fox Cabane, autora e professora em Harvard, Yale, no MIT e nas Nações Unidas, defende que "virtudes como o carisma e o magnetismo pessoal não são um exclusivo de acesso reservado a homens e mulheres especialmente bonitos, brilhantes, sagazes ou extrovertidos. São qualidades que podem ser aprendidas, treinadas e aplicadas com sucesso por qualquer pessoa". Recorrendo a técnicas que desenvolveu para a Universidade de Harvard e para o MIT, explica, através do seu livro, as várias componentes do carisma e lembra-nos que para desenvolver esta competência não é preciso alterar os fundamentos da nossa personalidade. Basta adotar e aperfeiçoar uma série de práticas e comportamentos que encaixam na pessoa que já somos.

Segundo a autora são três os aspetos cruciais do carisma: presença, poder e afetividade (uma atitude calorosa).

Presença

O primeiro pilar defende que prestarmos atenção ao que acontece à nossa volta, em vez de nos deixarmos levar pelos nossos pensamentos, pode produzir efeitos muito gratificantes. Quando mostramos presença, os que nos rodeiam sentem que os ouvimos, que os respeitamos e lhes damos valor. A presença é uma aptidão que pode ser aprendida. Estar presente significa ter uma consciência permanente do que está a acontecer à nossa volta. No livro, a autora ensina algumas técnicas inspiradas na disciplina de mindfulness que podem ser facilmente praticadas por todos, em qualquer momento e lugar.

Poder

O poder, o segundo pilar, envolve quebrar com as barreiras auto-impostas. A síndrome do impostor, como é conhecida, define o medo predominante de que não se é digno da posição em que se está. Quanto mais alto na escada se sobe, mais constante este sentimento se torna. A chave para este pilar é remover as dúvidas, assegurando que se pertence ao lugar onde se está e que as nossas habilidades e paixões são valiosas e interessantes aos olhos dos outros.

Afetividade

O terceiro pilar, a afetividade, não é propriamente algo que se possa fingir ou falsificar. Exige que se irradie um certo tipo de vibração que sinalize bondade e aceitação. É o tipo de sentimento que se pode obter por parte de um parente próximo ou de um amigo querido. É complicado, considerando que quem se destaca aqui são pessoas que invocam este tipo de sentimento nos outros, mesmo quando acabaram de se conhecer.

Cabane assevera que tanto o poder como a afetividade são condições necessárias do carisma. Uma pessoa poderosa, mas fria, pode ser impressionante, mas não é necessariamente percebida como carismática, e pode até parecer arrogante ou distante. Por outro lado, uma pessoa calorosa sem poder pode parecer agradável, mas não é necessariamente percebida como carismática e pode até dar uma impressão de subserviência ou parecer desesperada por agradar.

Fake it till you make it?

À partida, quando conhecemos alguém que consideramos carismático não pensamos que essa pessoa está a "vestir uma persona" — se pensamos dessa forma então o mais provável é que essa pessoa deixe de nos parecer carismática. Para a autora de Aprenda a Ser Carismático as coisas não têm de ser assim tão lineares. Defende, inclusive, que "basta assumir um estado mental carismático para que o seu corpo se exprima numa linguagem corporal cheia de magnetismo". Cabane menciona o efeito placebo considerando que este está na base de muitas das melhores técnicas de reforço do carisma. E deslinda: "A nossa mente não distingue imaginação e realidade, por isso se criarmos um estado interior carismático a nossa linguagem mostra um carisma autêntico".

Em suma, a equação do carisma é muito simples: tudo o que é preciso fazer-se é dar a impressão de ter ao mesmo tempo um grande poder e ser-se afetuoso, uma vez que os comportamentos carismáticos projetam uma combinação destas duas qualidades.

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