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Isto Lembra-me Uma História: Eles não cantam para o Rei Charles

A dois meses da coroação do monarca britânico, a lista de artistas que recusaram o convite continua a crescer a uma velocidade bem maior do que aquela a que cresce o alinhamento dos que participam na cerimónia.

Foto: Getty Images
05 de março de 2023 | Diogo Xavier
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Longe vão os tempos em que John F. Kennedy, presidente americano, tinha a cantar para si, no seu aniversário, a mais cintilante das estrelas de Hollywood. "Happy birthday, Mr. President", quase sussurrava languidamente uma Marilyn Monroe a arder, enfiada num vestido tão justo e estreito que quando, anos mais tarde, Kim Kardashian tentou enfiar-se nele, o rasgou irremediavelmente. Desfez-se a memorabilia, mas ficaram os registos e as memórias.

Talvez não fosse precisamente isso que Charles, ex-príncipe Carlos de Inglaterra que agora se faz rei, tinha em mente quando começou a contactar artistas para atuarem na cerimónia da sua coroação, agendada para dia 6 de maio de 2023. Se, por um lado, não é propriamente um JFK, também é certo que não abundarão pelo mundo cantoras à altura de Marilyn. Mas Charles III, mesmo ajustando desejos e necessidades, não tem tido a melhor das sortes com as escolhas com que pretende animar a cerimónia.

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A mãe de Charles, Elizabeth II - ou, na sua versão portuguesa, Isabel II -, foi coroada, a 2 de junho de 1953, uma terça-feira, na Abadia de Westminster, como manda a tradição e o protocolo real britânico. Na ocasião, o serviço musical ficou a cargo da English Chamber Orchestra e do Westminster Abbey Choir, conduzidos pelos maestros William McKie e John Dykes Bower. Esta informação é relevante? Talvez não, mas importa sublinhar que, se a mãe de Charles tinha nomes de respeito e de peso para apresentar no programa de festas, o filho, por esta altura, não se pode gabar do mesmo. Quem sai aos seus não degenera, diz-se, mas Carlos - na sua versão portuguesa - continua a mostrar que, além do ADN, parece não ter lá muito em comum com a mãe (por exemplo: enquanto Isabel II foi uma das mais jovens rainhas a ascender ao trono do Reino Unido, com apenas 25 anos, Carlos é o mais velho monarca de Inglaterra a ser coroado e um dos mais idosos da história das monarquias mundiais; em sua defesa, pode evocar o espírito freudiano e alegar que a culpa é da mãe - da longevidade da mãe, em bom rigor).

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As cerimónias de coroação exigem números musicais à altura. Nos Países Baixos, por exemplo, em 2018, a rainha Beatrix abdicou do trono em favor do filho Willem Alexander. Quando chegou a altura de celebrar o novo monarca neerlandês, Willem, tal como Elizabeth II, também quis violinos. Não teve uma orquestra de câmara, mas tinha à mão André Rieu, o que garante uma revisão pop da música clássica - ou vice-versa, ou ambas. Mas concentremo-nos na pop e nos violinos, que são ingredientes que ficam bem em cerimónias em que a realeza se apresenta à plebe.

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Charles III, por mais que já não tenha idade para isso, também parece inclinar-se definitivamente para uma atuação pop na sua cerimónia. Entre os nomes que a imprensa britânica tem avançado como alvos da preferência do novo (novo no sentido de recente) monarca da coroa britânica encontram-se Harry Styles, Adele, Spice Girls, Ed Sheeran, Robbie Williams ou Elton John. Porém, e com o relógio em abrupta contagem decrescente, o staff da casa real inglesa parece começar a entrar em pânico diante da quantidade de negas que tem levado dos artistas a quem decidiu endereçar convite. 

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Começando pelo fim, precisamente por Elton John, o extravagante músico - célebre, entre outras coisas, por possuir aquela que é possivelmente a mais vasta coleção de óculos escuros do planeta - terá declinado o curioso convite justificando-se com uma exigente carga de trabalho, que inclui concertos na Alemanha e noutros pontos da Europa, concentrados para aquele período. Elton John, que cantou Candle in the Wind no funeral de Diana Spencer, e que era um grande amigo pessoal de Lady Di, não deixa de ser uma escolha no mínimo surpreendente de Charles. O artista, porém, não invocou razões pessoais para recusar o convite, manteve a compostura e escudou-se na agenda sobrecarregada.

Razões semelhantes terão servido para os demais artistas faltarem à cerimónia. "Estou muito ocupada", terão dito Adele e Ed Sheeran, talvez não exatamente por estas palavras, à equipa do rei Charles III. Enquanto a desculpa do cantor de The Shape of You é razoável e plausível, uma vez que toca no dia anterior no Texas, Estados Unidos da América, já a intérprete de Easy on Me, não foi easy on Charles, e simplesmente disse "nesse dia não vai mesmo dar". Harry Styles recusou igualmente o convite fazendo uma revelação surpreendente: ao contrário do que o seu mediatismo poderia sugerir, afinal o inglês não é omnipresente. Logo por azar - de Charles III -, Styles tem atuações na Austrália, a 4 de maio, e na Nova Zelândia, a 7.

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Quem também não poderá estar presente na cerimónia é Robbie Williams. Contudo, os Take That, banda da qual Williams era membro original, vão atuar na coroação. Outros artistas confirmados incluem Lionel Richie, as irmãs Kylie e Dannii Minogue e ainda Olly Murs, uma espécie de celebridade local em expansão internacional, que ficou conhecido em Inglaterra depois de ter entrado no programa televisivo Factor X. Não sendo um alinhamento fraco ao ponto de embaraçar, não deixa de estar longe de ser de luxo e recheado de primeiras linhas.

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Uma sugestão que podemos deixar ao antigo príncipe Carlos para compôr melhor o programa das festas é que tente contratar os Corrs. Vejamos: têm violinos, são pop e, sendo irlandeses, da República da Irlanda, em termos de incongruência na escolha do monarca não andará longe do erro de casting que foi Elton John.

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