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Costa Boal em homenagem ao tempo e à arte de fazer grandes vinhos

São poucos, muito poucos, os produtores em Portugal capazes de lançar, ao mesmo tempo, seis ou sete vinhos tão marcantes. Três deles, em particular, cheios de personalidade.

Costa Boal destaca a arte e o tempo na produção de vinhos portugueses Foto: DR
24 de outubro de 2025 | Bruno Lobo
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Costa Boal Homenagem 2011, Garrafeira Tinto 2017 e Garrafeira Branco 2022 formam a trilogia que o produtor duriense apresentou no Palácio do Marquês de Pombal, em . O lugar não podia ser mais simbólico para a história do , mas tratava-se aqui de honrar a própria história da empresa – e não foi sem emoção que António Costa Boal evocou os 25 anos da morte do pai, momento decisivo para o seu envolvimento na empresa familiar. “A sua coragem e amor pelo campo guiaram-me em todos os passos deste caminho”, dizia. Cada uma destas garrafas guarda, por isso, “um pouco da sua memória e do legado que me deixou”, sendo inclusivamente “as melhores colheitas que já lançámos no mercado.” 

Di-lo com indisfarçável orgulho — e provavelmente com razão. Especialmente no caso do Homenagem, um tinto que nos chega desse mítico 2011, com uma vivacidade e jovialidade surpreendentes, taninos bem polidos e fruta no ponto. Tudo com uma evolução e um equilíbrio que só muitos anos conseguem dar. A matéria-prima, diga-se, já era bastante boa, mas o tempo e o saber esperar fizeram a diferença. 

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As uvas vieram da Quinta de Cabeda, em , com vinhas velhas plantadas em altitude, em solos de transição de xisto para granito. É um Douro mais fresco do que junto ao rio, o que ajuda a criar vinhos com um perfil de maior elegância do que concentração. As duas Tourigas, Francesa e Nacional, surgem bem temperadas por Tinto Cão e Sousão, que lhe dão um toque extra de acidez e prolongam a vida e a juventude do vinho. 

Edição limitada a 500 exemplares, guardados para este relançamento de Homenagem a Augusto Boal. Preço: €249 Foto: DR

As edições limitadas estreiam também a gama Garrafeira no portefólio da Costa Boal — vinhos com um estágio mais prolongado de, pelo menos, 30 meses, 12 dos quais em garrafa. Isso é o que dita a lei, mas, no caso do tinto, falamos da colheita de 2017, com estágio de três invernos em barrica e os restantes anos em garrafa. 

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O processo de vinificação é exatamente o mesmo do Homenagem e, tal como nesse rótulo, as vinhas vêm da altitude de Alijó, desta vez com a Tinta Amarela a fazer companhia à Touriga Nacional, mais o Sousão e o Tinto Cão. São vinhos pensados de origem para a longevidade, com a riqueza das vinhas velhas e o tal tempero de acidez.  

Costa Boal Garrafeira Tinto 2017. Edição limitada a 960 garrafas. Preço: 130 euros. Foto: DR

2017 foi outro grande ano, aqui revelado com elegância e um lado mais vegetal do que frutado — com muita juventude, mas já “perfeitamente no ponto”, como sublinhava o enólogo Paulo Nunes. Depois de provar o Homenagem, fica uma curiosidade irresistível para perceber como vai evoluir este 2017 — porque promete.

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Costa Boal Garrafeira Branco 2022, em edição de 700 garrafas. Códega de Larinho, Rabigato e Arinto. Uma vez mais, com as primeiras castas a trazer a riqueza e complexidade das vinhas velhas em altitude, do planalto de Alijó, e o Arinto a servir de tempero para reforçar a acidez e potenciar a longevidade. Dois invernos de estágio em barrica usada. Floral e cítrico, fresco, muito equilibrado e gastronómico. Preço: 90 euros. Foto: DR

Entretanto, em Trás-os-Montes… 

As novidades da empresa não se restringem ao Douro. Pelo contrário, o grosso chega de Trás-os-Montes, que é hoje o verdadeiro quartel-general da Costa Boal — e, desta vez, já com rótulos para todas as bolsas. É o caso dos Field Blend – o tinto de 2023 e o branco de 2024. Dois vinhos excelentes, com volume e elegância, acidez viva e bem integrada. Parece-nos difícil pedir mais por 6 euros. Ao mesmo nível está o Flor do Tua Reserva. 

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Mas se regressarmos aos topos de gama, encontramos outro dos vinhos que mais prazer nos deu ultimamente: Palácio dos Távoras Tinta Gorda 2021 (preço: 45 euros). É certo que a cor interessa pouco nos vinhos — porque não se cheira nem se prova —, mas neste caso a cor clara e aberta também não engana, revelando na boca uma leveza e delicadeza excecionais. Excelente equilíbrio entre álcool (14 graus) e acidez, com notas mais vegetais e de groselha. 

Palácio dos Távoras Tinta Gorda 2021. Um vinho raro, nascido numa vinha que estará mais perto dos 150 anos do que dos 100. Foto: DR

Para cúmulo, é um vinho raro, porque não deve haver muitos monocastas de Tinta Gorda, nem de vinhas que há muito celebraram o centenário – e este será, talvez acima de tudo o resto, o grande segredo para a Costa Boal conseguir criar tantos e tão belos exemplares: as vinhas velhas. Vamos percebê-lo também no Alicante Bouschet 2021 ou no Tinto Grande Reserva 2020 (que era precisamente o antigo Vinhas Velhas). 

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Palácio dos Távoras Baga 2018. A exceção que confirma a regra. Não nasce em vinhas velhas, mas é um belo exemplo da adaptação da casta à região. E deram-lhe tempo para se poder expressar. Foto: DR
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