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The Manor House Celeirós. A tranquilidade mora nesta casa duriense

A Must foi explorar a nova proposta de enoturismo do The Fladgate Partnership. Instalada numa pitoresca aldeia histórica, a propriedade centenária, que inclui 19 quartos, uma piscina exterior e um restaurante, tem vista privilegiada sobre o vale do rio Pinhão.

Casa rural com piscina e vista para o vale do Pinhão, no The Manor House Celeirós Foto: ©The Manor House Celeirós
03 de dezembro de 2025 | Patrícia Santos
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O frenesim típico de um terminal intermodal como o de Campanhã, onde todas as linhas se cruzam para testemunhar um sem-fim contínuo de partidas e chegadas, já não surpreende nem assusta nenhum elemento do grupo de jornalistas que se começa a formar junto à rotunda interna da infraestrutura. Cheguemos de Lisboa, de Vila Nova de Gaia ou de aldeias pouco conhecidas do concelho de Santo Tirso, estamos mais do que habituados a descobrir os territórios e as suas gentes a bordo dos comboios, autocarros e metros que por lá passam. O facto não nos impede, porém, de aguardar com certa ansiedade o transporte para , uma região célebre por viver noutros ritmos, seja o da terra, dos animais, das videiras ou oliveiras.

É com esse espírito que partimos, por volta das 10 da manhã de uma terça-feira bastante soalheira de outubro, rumo ao The Manor House Celeirós – a mais recente aposta do , que também detém o The Yeatman e o Vintage House. Conduzidos pelo senhor Joaquim, familiarizado com as curvas e contracurvas próprias do trajeto, observamos como o cenário urbano dá lugar aos famosos solos xistosos e às encostas de socalcos que o outono pintou com variações de vermelho, laranja e amarelo. Estes tons vibrantes, em contraste com os verdes que ainda permanecem na vegetação, refletem sobre o rio e recordam-nos que não foi por acaso que a UNESCO classificou, em 2001, o como Património Mundial da Humanidade. Distraídos pelas herdades, assim como pelas aldeias históricas, miradouros e trilhos que marcam a paisagem, alcançamos a primeira paragem do dia: a Quinta do Panascal, no vale do Távora.

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Vista vale do Távora, Quinta do Panascal Foto: ©Quinta do Panascal

Enquanto o cabrito assado não sai do forno, Miguel Campos, o diretor de enoturismo, leva-nos numa caminhada pela propriedade com cerca de 70 hectares, que foi adquirida pela Fonseca, uma das mais antigas e emblemáticas casas de vinho do Porto, em 1978. Foi nessa altura que teve início o trabalho de reconstrução das vinhas, que se acredita serem ali cultivadas desde o início do século XIX. Estas estiveram, contudo, abandonadas durante vários anos devido à devastação causada pela filoxera – a doença, originada por um inseto homónimo que se alimenta do suco que extrai das raízes de plantas como as videiras e provoca tumores responsáveis por destruir as cepas –, que arruinou muito do vinhedo duriense entre as décadas de 1860 e 70.

No decorrer do processo de recuperação, as íngremes e inclinadas encostas inferiores foram transformadas em patamares, separados por taludes altos; e as encostas suaves na parte superior foram plantadas em fileiras verticais utilizando a técnica de vinha ao alto. Na vinha do Vale da Régua, criada em 1995, cada fila é plantada com uma única casta. A Touriga Francesa, por exemplo, semeia-se em locais baixos, onde o solo é mais fértil e os seus lançamentos estão protegidos do vento. Já a Tinta Roriz, que exige solos secos em pleno sol, fica no cume. As diferentes elevações permitem produzir “vinhos que combinam fruta rica e poderosa com complexidade aromática”.

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Harvest 2020, Quinta do Panascal Foto: ©Quinta do Panascal

Todos os detalhes desta história de resiliência podem ser descobertos através de um audio-tour, acessível em nove idiomas, que guia os visitantes pelo vinhal, bem como pelos lagares e cubas de madeira, no piso térreo da casa, onde as uvas são pisadas e o vinho do Porto fica a repousar. O passeio termina com uma prova comentada à escolha dos participantes (15 a 60 euros por pessoa). Degustações de queijos e enchidos e rituais de abertura de vinho do Porto Vintage a fogo são outras iniciativas à disposição para tirar o máximo partido da visita.

Degustações Foto: ©Quinta do Panascal

Mediante reserva, é igualmente possível explorar os sabores tradicionais da cozinha local. Estes ganham forma através das mãos experientes da dona Mila e de Lúcia, que há muito tratam os produtos da região por tu. Embora o cabrito assado seja a especialidade da casa, a carta inclui ainda pratos como o cozido à portuguesa, o lombo de porco com laranja, o polvo à lagareiro, o bacalhau assado com batata a murro e a feijoada de legumes. A nível de entradas, há caldo verde, bolinhos de bacalhau e batatas fritas à inglesa. Nas sobremesas, brilham opções como o leite-creme queimado, a tarte de laranja, a mousse de chocolate com amêndoa do Douro, o bolo borrachão e o manjar branco do Douro, uma mistura de natas, gelatina e puré de morango. Os preços do menu (entrada, prato principal, sobremesa e suplemento de bebidas) variam entre os 48 e os 64 euros por pessoa. Para grupos com 30 ou mais elementos, dispõem de serviço de buffet com pratos quentes e frios, sobremesas e uma seleção de bebidas com e sem álcool (a partir de 48 euros).

Restaurante Foto: ©Quinta do Panascal

O encanto à antiga do The Manor House Celeirós

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Com as baterias recarregadas, é hora de voltar à estrada. O destino fica a cerca de 30 minutos de distância, em Celeirós, que desde 1756 se destaca por produzir um vinho generoso de excelência. Nesta aldeia do concelho de Sabrosa – com um ambiente tranquilo e perspetivas panorâmicas sobre o vale do rio Pinhão que convidam à contemplação –, várias casas senhoriais de grande valor arquitetónico, a Igreja Matriz e a Capela de S. Francisco, datada do século XVIII, ajudam a compor o cenário. Um dos principais atrativos, porém, é a antiga Quinta do Portal, que reabriu em maio com uma nova leveza e luminosidade. Também o nome, The Manor House Celeirós, representa uma novidade, apesar de se tratar de um regresso às raízes, já que desde o século XIX até ao final da década de 90, a propriedade centenária – famosa pelos seus vinhos do Porto, moscatéis e produção de azeites – sempre foi conhecida como Quinta Casal de Celeirós.

The Manor House Celeirós, na região do Douro Foto: ©The Manor House Celeirós

Antes da reabertura, os edifícios da herdade, adquirida em 2024 pelo The Fladgate Partnership, foram alvos de uma renovação profunda, mas cuidada, que permitiu modernizá-los sem abdicar do charme rural que os torna únicos. Paulo Santos, diretor de turismo do grupo, conta-nos que se deparou com um “ambiente pesado e austero” quando entrou na casa principal pela primeira vez. “Faltava-lhe luz, leveza, espaço para respirar e um toque de atualidade. Foi isso que lhe demos”, completa. A antiga construção de apoio à atividade agrícola ganhou assim paredes com tons mais claros, disse adeus ao mobiliário que não lhe acrescentava valor, amenizou a decoração e deixou em evidência as amplas janelas com vista para a piscina exterior, rodeada por vinha. “Com esta paisagem à frente, não precisamos de ter muito aqui dentro”, conclui Paulo.

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Adjacente a este edifício com 12 quartos, fica a Casa do Lagar, que passou de quatro a sete habitações (a partir de 180 euros por noite). Entre elas, destaca-se a suíte com sala de estar independente e kitchenette. A ligar os dois imóveis está o design de interiores, que criou uma atmosfera acolhedora e rica em detalhes, capaz de evocar as antigas atividades ligadas ao lagar sem abdicar da sensação constante de conforto.

Quarto no The Manor House Celeirós Foto: ©The Manor House Celeirós

Uma cozinha duriense autêntica como bandeira

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O Casa das Pipas Restaurant, perto de uma das entradas da propriedade, é o sítio ideal para quem procura um almoço ou jantar descontraído, mas elegante. Seja hóspede ou não, é sempre bem-vindo pela equipa liderada por Milton Ferreira, que também assina a proposta gastronómica do Vintage House. “A minha cozinha é uma fusão de tradição e inovação, em que cada prato reflete a identidade do Douro com simplicidade, sabor e autenticidade”, resume o chef nascido em Lisboa e criado no Douro, que nos recebe com uma ementa especial composta por ovo a baixa temperatura, pregado com texturas de couve-flor e panacotta de baunilha.

Casa das Pipas Restaurant, propriedade da The Manor House Celeirós Foto: ©The Manor House Celeirós

Aos 35 anos, o profissional que se inspira pelos sabores tradicionais e pelas memórias familiares à mesa, bem como pelas suas viagens – já estagiou nos Estados Unidos, Canadá, China e Espanha –, nunca deixa, contudo, de regressar a casa. “Sempre acreditei nesta região e que temos um potencial enorme para crescer”, afirma. Em Portugal, trabalhou no The Yeatman e no Vista.

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Diariamente, há dois menus de degustação disponíveis, desenhados em função da época. O Identidade do Chef partilha, através de oito momentos, as histórias que marcam o trajeto profissional de Milton (100 ou 130 euros com harmonização vínica). O Memória Sensorial, com cinco momentos, é composto por saudações do chef, entrada, prato de carne, peixe e sobremesa (60 ou 85 euros com harmonização vínica).

Prato de menu degustação no Casa das Pipas Restaurant Foto: ©The Manor House Celeirós

Um centro de visitas em construção

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Depois de uma noite bem dormida e com o pequeno-almoço tomado, vamos até ao centro de visitas, pensado para quem quer saber mais sobre a história, as castas, o terroir e os processos de vinificação levados a cabo na quinta. Ainda há trabalho a fazer, mas Paulo Santos adianta que as obras já permitiram construir uma nova sala para provas (a partir de 16 euros por pessoa) no piso superior. Futuramente, o lagar de granito e a prensa de ferro que estavam na casa principal vão migrar para aqui e ajudar a contar como se fazia o azeite.

Pequeno-almoço no The Manor House Celeirós Foto: ©The Manor House Celeirós

Se é verdade que o senhor Joaquim já aguarda para nos levar a outras paragens, também o é que aqueles cujo relógio parece continuar a funcionar noutro ritmo se podem perder entre passeios pedestres, de barco ou de bicicleta, percursos BTT e piqueniques.

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Quinta do Panascal

Onde? Foz do Rio Távora, 5120-496 Valença do Douro Quando? Todos os dias, das 10h00 às 18h30 Reservas? 220 133 102 / 932 000 209 / visit.panascal@fonseca.pt

The Manor House Celeirós

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Onde? Estrada Nacional 323, 5060-020 Celeirós Quando? Restaurante – todos os dias, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h; Centro de visitas – todos os dias, das 10h às 17h30 Reservas? Alojamento — 259 937 000 / 968 120 127 / reception@manorhousedouro.com Restaurante – 96 812 0127 / restaurant@casa-das-pipas.com

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