Este ano, o país convidado é Cabo Verde, numa homenagem que vai muito além da música. A escolha — natural, segundo a organização — celebra os laços profundos entre o concelho de Loulé e a numerosa comunidade cabo-verdiana que ali reside. A ligação ganha corpo e alma logo na noite de abertura, com o concerto de Ceuzany, uma das vozes mais promissoras do arquipélago. Seguem-se outros nomes incontornáveis da cultura musical cabo-verdiana, como Ferro Gaita, a Cesária Évora Orchestra e os históricos Os Tubarões, que sobem ao palco Matriz para um concerto inédito ao lado de Dino D’Santiago, artista de raízes cabo-verdianas nascido em Quarteira e portanto um verdadeiro embaixador da fusão cultural que define este festival.
Com um cartaz eclético que inclui 40 concertos em seis palcos, o MED volta a reunir artistas de todo o mundo, do Mali à Colômbia, da Jamaica a Espanha, passando por Portugal, claro. O encerramento, no domingo, faz-se em clima de partilha e emoção, com um Open Day de entrada livre, marcado por um tributo a Sara Tavares idealizado por Nuno Guerreiro – ambos falecidos recentemente, mas cujas vozes permanecerão eternas.
No fundo, como sublinha Carlos Carmo, diretor do MED, "a maior estrela continua a ser Loulé", que, durante cinco dias, se reinventa como "um palco vivo da multiculturalidade, da celebração e da comunhão entre os povos através da música".
Em seguida, deixamos um roteiro especial do centro histórico de Loulé – "o verdadeiro cabeça-de-cartaz do festival", como o apresenta Carlos Carmo – com todos os locais e monumentos que irão servir de palco aos espetáculos, numa experiência que funde música, património e a própria identidade da cidade, também ela cada vez mais moldada pelo "espírito do MED".
Café Calcinha
No café Calcinha, a clientela já não se divide de acordo com a classe social, como noutros tempos, mas no interior pouco ou nada mudou. Inaugurado em 1929, pretendia ser uma réplica perfeita de um "café brasileiro", que reproduzia ali, em pleno barrocal algarvio, o ambiente cosmopolita da Belle Époque. Exemplar perfeito do estilo art déco, está classificado como Imóvel de Interesse Municipal e foi, durante décadas, um espaço de tertúlia que teve no poeta António Aleixo, imortalizado numa estátua à entrada, um dos seus mais ilustres frequentadores. Não deixa portanto de ter um certo simbolismo que o histórico café volte a ser um dos palcos do Festival Med, com espetáculos a cargo de Nanook o Vagabundo (Portugal), Daniel Kemish (UK) e Eduardo Ramos (Portugal).
Convento do Espírito Santo
Situado no coração de Loulé, é um dos mais emblemáticos edifícios históricos da cidade. Fundado no século XVII, o antigo convento franciscano é hoje um espaço cultural dinâmico, acolhendo exposições, eventos e atividades artísticas. O seu bem preservado claustro será um dos pontos centrais do Festival MED, servindo de epicentro a uma experiência imersiva, que transportará os visitantes até à essência de Cabo Verde, o país convidado desta edição, celebrando a cultura e as tradições, mas também a vitalidade contemporânea do Arquipélago. Esta área integrará arte, som, movimento, gastronomia e a participação direta da comunidade cabo-verdiana residente no Algarve, que vai oferecer uma cachupa comunitária aos visitantes. Será também junto ao convento que irá funcionar o Palco Cerca, por onde irão passar Stereossauro com Ana Lua Caiano e Pedro Jóia (Portugal) e Vieux Farka Touré (Mali) no dia 26; A Garota Não (Portugal), Léonie Pernet (França) e Fulu Miziki (Congo) no dia 27; e ainda Milhanas (Portugal), Sílvia Pérez Cruz e Salvador Sobral (Espanha e Portugal) e Paulo Flores (Angola).
Castelo e antiga Alcaidaria
Da primitiva fortaleza árabe já pouco resta, mas, aqui e ali, ainda são alguns os vestígios que se mantêm dos antigos habitantes da cidade, conquistada aos mouros por Afonso III, em 1249. Dentro das muralhas fica a Alcaidaria, que hoje alberga vários espaços culturais, como o Museu de Arqueologia, a Cozinha Tradicional e um centro de documentação. O castelo funciona também como ponto de partida para alguns percursos pedonais, que ligam diversos pontos de interesse, como os antigos banhos islâmicos ou o Jardim dos Amuados – todos eles integrados no recinto do Festival MED. Junto à antiga fortaleza irão funcionar também dois palcos do festival: O do Castelo, onde se irá realizar na quarta, 25, o concerto de abertura da edição deste ano, de entrada livre e a cargo de Ceuzany, uma das maiores vozes da nova geração da música cabo-verdiana e que a 26 recebe ainda Adam Ben Ezra (Israel) e Barrut (França), a 27 O Gajo (Portugal) e Cerys Hafana (Gales) ou a 28 Cristina Clara (Portugal) e Grèn Sémé (Ilha de Reunião); E o do Chafariz, situado na Praça Afonso III de frente para as muralhas, onde atuarão Virgem Suta (Portugal), Mitsune (Japão) e El Sonidero Insurgente (Argentina) a 26, Justin Adams & Mauro Durante (UK e Itália), Valter Lobo (Portugal) e Sofiane Saidi (Argélia) a 27, e ainda Lá no Xepangara (Moçambique, Guiné-Bissau, Brasil e Portugal), Tarwa N-Tiniri (Marrocos) e Queen Omega (Trinidad e Tobago) a 27.
Chafariz das Bicas Velhas
O Chafariz das Bicas Velhas é um dos marcos mais antigos de Loulé, situado junto a uma das antigas entradas da cidade. Datado do século XIX, terá substituído uma fonte anterior de origem medieval, sendo durante séculos ponto essencial de abastecimento de água à população, servindo também outrora para regar as extensas hortas que se situavam nas proximidades, chamadas localmente de Hortas d' El Rei. Conhecida por nunca secar, esta nascente seria provavelmente a mesma que abastecia os Banhos Islâmicos do século XIII, localizados nas proximidades. As quatro bicas de metal a que deve o nome foram feitas a partir da fundição de um antigo sino da Igreja Matriz. Aqui funcionará o Jazz Med, um palco exclusivamente dedicado às sonoridades do jazz, com as atuações do Algarve Jazz Collective a 26, de Gonçalo Neto a 27 e do Nebuchadnezzar Group – The Hexa Project a 28.
Mercado Municipal
É uma tradição repetida há mais de cem anos, desde que o mercado de Loulé abriu portas, a 27 de junho de 1908. Todas as semanas, sempre ao sábado de manhã, as ruas à volta ganham ainda mais movimento, com um outro mercado, este a céu aberto, conhecido como o "dos produtores". Tal como antigamente, ainda é possível encontrar aqui todo o tipo de iguarias serranas, como o mel, o pão, os queijos de cabra, os enchidos ou a aguardente de medronho, bem como uma grande variedade de frutas e legumes, literalmente acabados de apanhar. Este choque frontal com as gentes do interior é sempre uma surpresa para muitos visitantes que, vindos do litoral, aproveitam o fim-de-semana para descansar da praia e conhecer a cidade, em especial o mercado, famoso pela fachada em estilo neoárabe, mas também pelo ambiente popular, com as vendas de fruta e de peixe a coabitarem hoje com diversos artesãos locais e outras bancas de sabores, enfim, mais gourmet. Como habitualmente, será um dos pontos nevrálgicos do MED, com música, DJ’s e os restaurantes a funcionar em pleno durante todo o festival.
Banhos Islâmicos
Descobertos apenas em 2006, Os Banhos Islâmicos de Loulé são um dos mais importantes vestígios do período muçulmano em Portugal. Datados dos séculos XII-XIII, integram uma estrutura rara e bem preservada de hammam, com várias salas de banho. Ficam localizados em pleno centro histórico, ao lado da antiga muralha, onde se revela ao visitante a sofisticação da cultura islâmica, sendo hoje um espaço museológico que convida à descoberta não só das raízes da cidade como de uma das facetas mais esquecidas da própria identidade nacional. Como não podia deixar de ser estão também integrados no recinto do MED, funcionando aqui o palco Hammam, com atuações marcadas de A Cantadeira (Portugal) a 26, Homem em Catarse (Portugal) a 27 e Filipe Sambado (Portugal) a 28.
Igreja Matriz
A Igreja Matriz de Loulé, dedicada a São Clemente, é o principal templo religioso da cidade. Edificada no século XIII sobre uma antiga mesquita, conserva elementos góticos e barrocos, destacando-se a sua imponente torre sineira, outrora minarete e único elemento sobrevivente da mesquita de Loulé. Situada no coração histórico de Loulé, oferece um ambiente de recolhimento e beleza arquitetónica, sendo também um dos espaços mais emblemáticos do MED, através do palco Matriz, por onde irão passar alguns dos nomes mais fortes da edição deste ano. Logo a 26 apresentam-se Carminho (Portugal), Ferro Gaita (Cabo Verde) e Nomad (Portugal), enquanto a 27 é a vez da Cesária Évora Orchestra (Cabo Verde), de The Congos & The Gladiators (Jamaica) e de Balqeis Live (Egito) subirem ao palco situado junto do Jardim dos Amuados. Para 28 está reservado um dos momentos mais altos do festival, o concerto conjunto entre o lendário grupo cabo-verdiano Os Tubarões e o português Dino d’Santiago, numa noite que contará também com as atuações de Alain Pérez y la Orquesta (Cuba) e de Shkoon (Síria e Alemanha).