Prazeres / Drive

Citroën 2CV: 75 anos, quatro rodas e uma cesta de ovos

Foi apresentado em 1948, mas já existia desde 1936. Se não fosse a Segunda Guerra Mundial, o Citroën 2CV estaria a comemorar 87 anos – afinal, são “apenas” 75.

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24 de novembro de 2023 | Luís Merca
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Enquadramento histórico

Mais do que qualquer outro, este modelo precisa de ser enquadrado na História. Em meados dos anos 30 do século passado, a Citroën propôs-se lançar um automóvel acessível, simples de fabricar e de manter, e que pudesse, segundo o caderno de encargos, atravessar um campo acabado de arar, com uma cesta cheia de ovos no lugar do pendura... e não partir nenhum. Este "requisito" prendia-se com a inexistência de uma grande rede de estradas asfaltadas na França de então. Outra obrigatoriedade era transportar quatro ocupantes, mais 50 kg de produtos agrícolas, a uma velocidade de 50 km/h, com um consumo não superior a 3 (três!) litros aos 100. "Um guarda-chuva com quatro rodas" era a frase que resumia na perfeição o conceito do 2CV.

O projeto TPV

O TPV, de ‘toute petite voiture’ (viatura muito pequena), surgiu em 1936, em plena Frente Popular. Cumpria todos os requisitos acima indicados e preparava-se para uma carreira de sucesso, estando prevista a sua apresentação mundial no Salão Automóvel de Paris de 1939. Mas a II Guerra Mundial meteu-se de permeio e os planos da Citroën foram por água abaixo. Todos os protótipos produzidos até então foram destruídos, à exceção de cinco, escondidos dos olhos dos nazis que viriam a ocupar o país.

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Fast-forward para o pós-guerra

Apesar da escassez de matérias-primas, a Citroën retomou o projeto logo que a Grande Guerra terminou e apresentou, no mesmo Salão de Paris, em 1948, o novo modelo. Na altura, o pequeno 2CV era movido por um motor 2-cilindros de 375 cc, que produzia uns espantosos... 9 cavalos e atingia 65 km/h.

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(Nota intercalar: o nome 2CV refere-se a "cavalos fis

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cais" e não a qualquer unidade de potência – fim da nota intercalar.)

A carroçaria era composta por chapas prensadas, com nervuras no capot, para conferir maior resistência, o tejadilho era de lona, enrolável, e apenas havia uma luz de stop – já na dianteira, no entanto, apresentava dois faróis, ao contrário do protótipo inicial, que tinha apenas uma (a legislação da altura não obrigava a mais). Não havia manómetro de combustível, mas sim uma vareta por baixo do bujão do depósito – se a vareta estivesse molhada, havia combustível suficiente; se estivesse seca, havia pouco combustível. Para quê complicar o que é simples?

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O 2CV media 3.86m de comprimento, por 1.48m de largura e 1.60m de altura. A distância entre eixos de 2.40m permitia um bom espaço a bordo, considerando o tamanho exterior. O peso era um dos seus trunfos: apenas 600 kg.

Apesar de uma receção inicial algo fria por parte da imprensa – nunca estão contentes – o Citroën 2CV impôs-se gradualmente no mercado e as vendas começaram a subir. Em 1951, a produção atingia 100 unidades por semana (!) e no final desse ano já tinham sido fabricados 16.288. Nessa altura é introduzida na gama (sim, já podia ser considerada uma gama) a versão Fourgonette: dois lugares e a secção traseira fechada, para transporte de carga. Quatro anos depois, apareceriam os piscas, umas bandeirolas que saíam dos lados, por cima das portas traseiras. Nessa altura é introduzido um motor de 425 cc e 12.5 cavalos, e a velocidade subia para uns estonteantes 80 km/h.

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Os novos tempos dos anos 60 e 70

A carreira do Citroën 2CV continuava de vento em popa, com uma nova versão 4x4, o 2CV Sahara, a ser lançada em dezembro de 1960, e a introdução de piscas nos guarda-lamas dianteiros. Seria, no entanto, preciso esperar mais uma década para também os farolins traseiros receberem esse luxo. Em 1967 aparecia a variante mais urbana, se é que se pode chamar assim: o Citroën Dyane, que prolongou o conceito do original 2CV, respondia ao sucesso que o Renault 4 tinha atingido desde o seu lançamento.

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Uma página da História do Automóvel

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Apesar da sua rusticidade, o Citroën 2CV assumiu-se como um dos mais importantes modelos da produção automóvel mundial, ombreando com o Ford T e o VW Beetle numa galeria dos mais notáveis automóveis já fabricados. Até às 16h30 do dia 27 de julho de 1990, quando saiu da fábrica de Mangualde o último 2CV, tinha sido produzido um total de 5.114.969 unidades do 2CV/Diane. A fábrica portuguesa contribuiu para o sucesso global, fabricando um total de 81.882 2CV (incluindo 1.968 2CV Furgão).

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Para assinalar os 75 anos do 2CV, a Citroën fotografou oito modelos históricos: o 2CV 6 vestido pela Hermès por dentro e por fora; o 2CV 6 Spécial; o 2CV Spot, a primeira edição especial da Citroën; o 2CV A, um dos 250 protótipos construídos em 1939 para o Salão do Automóvel; o 2CV A Berline (1950) idêntico ao apresentado no Salão Automóvel de Paris de 1948; o 2CV A de condução à direita; o 2CV AZU, um 2CV furgão produzido de 1954 a 1978; e o 2CV 4x4 Sahara, com tração às quatro rodas e dois motores que lhe permitiam ultrapassar inclinações de mais de 40% sobre areia.

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