Negócios do Luxo

São carteiras Hermès? Não, são fundos de investimento

Os modelos Birkin e Kelly têm demonstrado uma valorização consistente, semelhante ao ouro. Nos últimos dez anos, os preços aumentaram cerca de 5% ao ano – melhor retorno do que muitas aplicações a prazo.

Luxus transforma carteiras Hermès em ativos financeiros com fundos dedicados
Luxus transforma carteiras Hermès em ativos financeiros com fundos dedicados Foto: Associated Press
24 de novembro de 2025 | Madalena Haderer

A Luxus, uma empresa de wealth-tech apoiada por investidores de capital de risco e focada em investimentos de luxo, está a transformar carteiras  – especificamente a e a Kelly – em verdadeiros activos financeiros, lançando dois fundos exclusivamente dedicados a estes modelos. Dana Auslander, fundadora da Luxus, explicou à Forbes o que a levou a criar deste fundo: “A minha tese é simples: o investidor e o colecionador são a mesma pessoa. É preciso tratá-los da mesma forma – e eles querem poder investir nos mesmos objectos que , sejam obras de arte, joias ou peças Hermès. Acreditem, muita gente colecciona Hermès.”

O primeiro fundo, apoiado pela Christie’s, angariou um milhão de dólares (quase 868 mil euros) em maio e obteve um retorno líquido de 34% com um prazo médio de revenda de apenas 43 dias. Perante a forte procura, seguiu-se um segundo fundo que arrecadou dois milhões de dólares (mais de um milhão e meio de euros).

A lógica por detrás deste investimento é simples: no mercado secundário, as carteiras Birkin e Kelly têm demonstrado uma valorização consistente, semelhante ao ouro. Nos últimos dez anos, os preços aumentaram cerca de 5% ao ano, com picos durante a pandemia. E, apesar de uma correcção posterior, os valores continuam acima dos níveis pré-pandemia. A exclusividade da Hermès – que só vende estes modelos a clientes convidados – alimenta ainda mais esta procura, desviando muitos compradores para o mercado de revenda.

Birkin original criada pela Hermès para Jane Birkin, em 1984, momentos antes do leilão
Birkin original criada pela Hermès para Jane Birkin, em 1984, momentos antes do leilão Foto: Associated Press

Seguindo a sua estratégia pré-definida, a Luxus compra dois tipos de carteiras: as mais clássicas, em cores neutras, vendidas em plataformas como Farfetch ou 1stDibs; e as peças exóticas ou especiais, adquiridas em leilões da Christie’s e Sotheby’s. Exemplos como a carteira original de Jane Birkin, vendida por mais de 10 milhões de dólares (mais de 8,5 milhões de euros), reforçam o apelo coleccionável deste mercado. Fenómeno que tem sido amplificado pelas redes sociais, tornando a revenda de luxo mais visível e aspiracional.

A autenticidade é um pilar central deste modelo. Conforme Graham Wetzbarger, diretor de autenticação da Luxus, explicou à Forbes, a qualidade das imitações Hermès é hoje extremamente elevada, dificultando a distinção entre peças genuínas e contrafeitas. Por isso, o processo de verificação é rigoroso, analisando materiais, ferragens, acabamentos e marcas registadas.

A empresa está também a criar um Índice de Preços Hermès para formalizar dados de mercado e prever valores futuros, permitindo ajustar o portfólio para maximizar retorno. Curiosamente, apesar de as carteiras serem compradas maioritariamente por mulheres (ou para elas), os investidores dos fundos são sobretudo homens, que, segundo Auslander, estão mais dispostos a correr riscos e focam-se nos resultados financeiros.

Convém, porém, sublinhar que os investidores (lamentavelmente) não recebem uma carteira, mas sim participação no fundo – embora tenham direito de preferência caso desejem comprar alguma peça a preço reduzido. Com isto, a Luxus pretende revolucionar a gestão de património, oferecendo um caminho alternativo para investir em bens de luxo que atraem a Geração Z e os Millennials, mais interessados na experiência e no potencial de valorização do que na posse tradicional do objeto.

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