The Black Mamba: “Não somos bem o ‘estilo Eurovisão’”.
Com o Festival Eurovisão da Canção aí à porta, poderá Portugal repetir a vitória de 2017? Antes do rumo a Roterdão, Pedro Tatanka e Miguel Casais, dos The Black Mamba, falaram com a MUST.

"I could do anything / And somehow I end up here, I don't know why / I still believe that / Love is on my side". Foi numa passagem por Amesterdão, em tourné, que os The Black Mamba encontraram a inspiração para os versos de Love is on My Side, a música que os portugueses levam à segunda semifinal da 65ª edição do Festival Eurovisão da Canção, a 20 de maio.
"Os The Black Mamba cresceram no Bairro Alto, nesse ambiente boémio, hoje em dia já não temos a possibilidade de estar tão presentes nesse tipo de ambiente como estávamos na altura. Quando chegamos lá [Amesterdão] percebemos que era um Bairro Alto vezes 10 (risos)", recorda Pedro Tatanka, em entrevista à MUST. Era o cenário "perfeito para escrever e fazer um disco", explica o vocalista.
A história da mulher que cai no mundo da prostituição, que conheceram numa das noites no Red Light District, e que veio a inspirar o tema que venceu o Festival da Canção, já é conhecida. Tem sido um tema recorrente em entrevistas e já levou até a que o Het Parool, um jornal dos Países Baixos, onde está agora a banda portuguesa, fosse em busca da protagonista da canção, publicando um artigo com o título: "Procurada: a prostituta de Amesterdão sobre a qual Portugal canta no Festival Eurovisão da Canção".
O olhar positivo sobre o mundo e as suas circunstâncias, mesmo perante as maiores dificuldades, foi o ponto de partida para o tema que representa Portugal este ano. "Ela achava que o amor se ia sobrepor à violência, ao mal, achava que não se podia queixar da falta disso. Uma pessoa que sofreu o que ela sofreu, já tão velhinha, e considerar isso... Olhar para as coisas pelo lado positivo em vez de pelo lado negativo foi uma coisa que me inspirou bastante", diz Tatanka. A música Love is on My Side é uma mensagem de esperança, acredita, mais do que uma mensagem de amor ou tristeza. Com a pandemia a tomar conta do mundo meses depois, o tema acabou por ganhar outro valor. "A mensagem acabou por se adequar a estes tempos que vivemos. Temos de nos agarrar à esperança, às pessoas de quem gostamos, para poder ultrapassar estes momentos difíceis", diz.
A banda, que nasceu em 2010, está num dos mais intensos momentos da sua carreira. A vitória no Festival da Canção, e consequente representação de Portugal na Eurovisão, foi inesperada, admitem. "Ficámos super felizes", dizem. O país leva, pela primeira vez, uma canção integralmente em inglês, composta por Tatanka. "Talvez represente uma mudança no paradigma do que é o Festival da Canção. Uma mudança até de alguns preconceitos que possam existir em relação a isso. Isso é uma coisa que nos orgulha bastante, porque vamos ficar na História como os primeiros a romper com este paradigma", diz o vocalista, que acredita que, independentemente do idioma, "a música é uma linguagem universal. Se a música te toca mais, se te chega ao coração, se te emociona, é essa música que tu preferes".

Portugal venceu pela primeira e única vez o Festival Eurovisão da Canção em 2017, com o tema Amar pelos Dois, interpretado por Salvador Sobral e composto por Luísa Sobral. "Lembro-me perfeitamente de ver o Salvador Sobral a cantar em Kiev e uma pessoa que devia ser de Leste, pelo aspeto, a chorar. Não devia perceber nada do que ele estava a dizer, mas a música tocou-o, chegou-lhe ao coração. Essa cena é que importa", defende.
Para já, os ensaios em Roterdão parecem ter chegado ao coração dos fãs acérrimos do concurso. Depois do primeiro teste, Portugal começou a escalar na tabela nas apostas. Após o segundo ensaio, os elogios continuaram nos blogues de fãs da Eurovisão. "Atingimos uma popularidade que, apesar de já andarmos aqui há muito tempo, e termos feito muitos Coliseus e muitos festivais, vários discos, e de termos uma legião de fãs muito fiel, ainda não tínhamos atingido [até aqui]", confessa Tatanka.
Já apelidados pelo Wiwibloggs, um dos mais conhecidos blogues ligados à Eurovisão, como os ‘dark horse da competição’, Miguel Casais, baterista, admite que não têm quaisquer expetativas em relação à vitória. "Acreditamos na nossa canção, mas estamos conscientes de que não somos bem o ‘estilo Eurovisão’. Quando falo no ‘estilo Eurovisão’ falo de um estilo mais pop, muito vincado, aqueles beats eletrónicos, com lasers e explosões e sei lá, esse tipo de cenas que não é muito o nosso estilo. Mas por outro lado a nossa canção pode sobressair por ser diferente", diz.

Quando Portugal organizou o concurso, em 2018, a final foi vista por 186 milhões de telespetadores em 42 países. Só em Portugal, mais de um milhão e meio de pessoas viram a vitória da israelita Netta com a canção Toy. Os números podem impulsionar um desejo antigo da banda portuguesa. "Vamos procurar de certa forma explorar esta exposição para conseguir dar força a um dos objetivos que sempre tivemos desde a génese da banda, que é a internacionalização. Portanto, fazer contactos com bookers, promotores, agentes. Estamos mais focados para aí", diz Casais.
Há 39 países a competir nas semifinais da 65.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que estão marcadas para 18 e 20 de maio. Em cada semifinal serão apurados 10 finalistas. A grande final acontece dia 22 de maio, em Roterdão, nos Países Baixos.
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