Conversas

Um dia na vida de Maria João de Almeida: "Os meus amigos dizem na brincadeira que eu não trabalho, ando sempre nos copos"

Escreve sobre vinhos, entre outras atividades, e chega a provar uma centena por semana, de diferentes produtores e regiões. Além dos livros, das palestras e dos eventos, assumiu a presidência da Associação Portuguesa de Enoturismo.

Foto: DR
Ontem às 13:11 | Augusto Freitas de Sousa
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A que horas se costuma levantar?

Às 7h30, quase todos os dias.

O que costuma refletir/ponderar/pensar nos primeiros minutos acordada?

Nada de especial, na verdade, preciso de pelo menos 15 minutos para acordar, não falem comigo, ou resmungo, só depois é que acordo para a vida.

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Qual é a sua rotina quando se levanta?

Sou daquelas que pede sempre mais cinco minutos ao despertador mas, depois, tem mesmo de ser. Levanto-me, vou para a casa de banho, tomo duche e a seguir o pequeno-almoço.

Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?

Nunca tenho muita fome de manhã. Basta-me um copo de leite, uma torrada e café. Às vezes até o tomo a meio da manhã. Quando estou fora de casa, em viagem, vario um pouco mais.

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Maria João de Almeida Foto: DR

Costuma fazer algum tipo de atividade antes do trabalho?

Depende de para onde vou e o que tenho de fazer, mais maioritariamente andar a pé ou de carro.

Qual é o seu trajeto diário? Como o faz? A pé, automóvel, transportes…

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Os meus dias nunca são iguais, viajo muito por Portugal e pelo estrangeiro, não existe rotina. Ando muito a pé e de carro, mas também uso o metro, o comboio e o avião… é uma alegria. E também trabalho em casa, às vezes.

Tem algum tipo de preparação prévia para o trabalho?

Depende do que vou fazer, mas normalmente gosto de despachar os e-mails logo de manhã. Se não consigo, vejo-os depois ao final da tarde.

A que horas começa a trabalhar?

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Na maioria das vezes, às 8h30.

Quais são as suas principais tarefas e responsabilidades no trabalho?

Os meus amigos dizem na brincadeira que eu não trabalho, ando sempre nos copos. E, na verdade, provo muitos vinhos (não os bebo, prefiro beber com moderação, poucos e bons…). Mas provo de 70 a 100 vinhos por semana, visito muitos produtores e também os seus enoturismos, em Portugal e no estrangeiro. Faço seleção de vinhos para várias circunstâncias, organizo e dou apoio a eventos de vinho e de enoturismo, dou formações e palestras, escrevo livros… nunca trabalhei numa coisa só.

Maria João de Almeida Foto: DR
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Como gere o seu tempo?

De preferência, com muita antecedência. Se o fizer, consigo fazer tudo (ou quase tudo). Tenho já coisas marcadas até ao final do ano…

Como lida com a pressão e o stress?

Pensar que o mundo não acaba amanhã e que há solução para (quase) tudo.

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Qual é a parte favorita e menos agradável do trabalho e porquê?

A parte favorita é estar sempre a aprender e ficar surpreendida com um vinho. O último que me deixou assim foi um branco do Dão de 1917, em bom estado de conservação. A parte pior é ter de provar vinhos mal feitos ou vinhos muito banais, que são ‘mais do mesmo’ e não trazem nada de novo.

Tem uma equipa a trabalhar consigo? Como gere a comunicação com eles?

Tenho várias equipas a trabalhar comigo e por isso a comunicação é fundamental. Além de falarmos muitas vezes por dia, fazemos várias reuniões on-line e tenho grupos de WhatsApp, o que facilita sempre para mensagens mais rápidas. Cada um tem a sua maneira de ser, obviamente, mas somos todos muito práticos e gostamos de arranjar soluções para os desafios que vão surgindo.

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Costuma fazer pausas no trabalho? Para?

Para tomar café, essencialmente.

Interrompe o trabalho para almoçar? O que costuma comer e onde?

Sim, almoço sempre, muitas vezes com produtores de vinho. Mas no meu dia a dia opto geralmente por refeições rápidas e práticas, não perco muito tempo. Sei que se calhar deveria ser diferente, mas a minha refeição principal é o jantar, altura em que tenho tempo para estar com a família, comer devagar e beber um bom copo de vinho.

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Maria João de Almeida Foto: DR

Como lida com eventuais críticas e elogios ao seu trabalho?

Sinceramente não me preocupam absolutamente nada, por muito que queiramos, nunca conseguiremos agradar a todos. Simplesmente tento dar o meu melhor em cada trabalho que faço. E, obviamente, aceitar alguns conselhos – se os houver – de pessoas que respeito na área para melhorar alguma coisa que não tenha ficado tão bem.

O que diria sobre a ideia de que as pessoas com quem se relaciona profissionalmente têm de si?

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Que sou muito exigente e perfeccionista (o que obrigatoriamente me torna um bocado chata e refilona). Mas, em contrapartida, acho que me veem como uma boa profissional e uma pessoa focada e justa.

Ao longo do dia dá importância às redes sociais?

Tento divulgar o meu trabalho através dos posts que publico, de manhã ou à hora do almoço. Depois esqueço-me de lá ir e vejo ao final da tarde se é preciso responder a alguma coisa. Temos de estar ligados, estamos no século XXI, mas não sou aquela pessoa obcecada…

Tem hobbies ou atividades que faz regularmente?

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Sim, tento ir pelo menos duas vezes por semana ao ginásio para descansar a cabeça, faço musculação e natação, e também corrida, quando não tenho tempo de ir ao ginásio. Também adoro tirar fotografias e ir a exposições de arte, de um modo geral.

A que horas costuma terminar a atividade profissional?

Normalmente entre as 19h e as 20h, quando não tenho viagens, eventos ou jantares.

Maria João de Almeida Foto: DR
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"Leva" trabalho para casa?

Tento não levar, mas acontece.

Costuma conversar com alguém sobre a sua atividade no final do dia?

Essencialmente com a família, mas depois disso tento desligar para falar sobre outros assuntos que também nos interessam e que estão na ordem do dia. Isso foi algo que a minha mãe me passou, e por isso, em minha casa, sempre se discute política, questões sociais, religião, história, música, falamos de tudo.

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Costuma viajar com frequência nas suas atividades profissionais?

Sim, mais em Portugal do que lá fora, principalmente a visitar produtores de vinho ou enoturismos. Mas também viajo muito, seja a fazer viagens de estudo, a visitar enoturismos, ou a participar como júri em concursos internacionais ou conferências.

Há muita diferença entre os dias da semana e os fins de semana?

Sim, para mim é importante haver uma pausa, descansar a cabeça. Nos últimos anos tenho lutado para que haja essa diferença. É importante estarmos com a família e amigos, a vida não é só trabalho, embora ele se imponha muitas vezes…

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Quais são os seus hábitos de jantar? Horário e exemplo de menu?

Quando estou em casa, é pelas 20h, 20h30. É a refeição do dia que mais gosto porque estou com mais calma e tempo para a família. Adoro abrir um vinho e ir bebendo enquanto cozinho. Há sempre sopa à mesa (adoro sopas, caldo verde e sopa de ervilhas são as preferidas) e um bom prato de peixe (robalo ou dourada ao sal, adoro, ou polvo no forno, também faço muito, e agora que o tempo está a ficar mais quente, ceviches). Na carne, frango e pato são obrigatórios lá em casa, assim como a carne de vaca para pratos de todos os dias. Às vezes pizzas, que também gosto de fazer em casa. Ao fim de semana tenho mais tempo e vou mais além, gosto de variar com outros peixes e carnes e arrozes e massas, e inventar, não sigo receitas. Raramente há sobremesa, a não ser fruta para quem quiser (normalmente como fora das refeições, variadas).

Maria João de Almeida Foto: DR

O que faz antes de dormir?

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Não consigo ir para a cama sem tomar um duche quente.

A que horas se costuma deitar e quantas horas dedica ao sono?

Deito-me à meia-noite, uma hora da manhã.

Como mantém o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional?

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É difícil, mas tudo se consegue com bom senso.

Vê-se a ter outra profissão?

Sou apaixonada por aquilo que faço e não me vejo nem quero fazer outra coisa. Mas, se tivesse necessidade disso, faria o que fosse preciso para fazer bem e aplicar-me noutro trabalho. Temos de nos adaptar às circunstâncias da vida e, como sou uma curiosa, e gosto de tantas outras áreas, se calhar até era capaz de me safar.

O que mais gosta e menos gosta na sua profissão?

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Do que mais gosto é de conhecer pessoas e histórias incríveis de vida e trabalho, e de provar bons vinhos que me surpreendam. Do que gosto menos é de aturar "enochatos". Fujo deles a sete pés.

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