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Maya Gabeira recorda o acidente que quase a afastou do surf e revela amuleto preferido

É a surfista que quebra recordes, mas não quebra sob pressão. Embaixadora internacional da Tag Heuer e campeã da Nazaré, não podia faltar à inauguração da primeira loja da marca em Lisboa, onde aproveitámos para conversar com ela.

Foto: DR
14 de março de 2024 | Bruno Lobo
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A Tag Heuer acaba de abrir a sua primeira boutique em Portugal, na Avenida da Liberdade, um espaço com 30 metros quadrados na David Rosas, e obviamente que não podia deixar de convidar uma das suas mais famosas embaixadoras internacionais, Maya Gabeira, que vive na Nazaré, para a inauguração.

A surfista brasileira venceu a competição feminina na última prova no "canhão", juntando mais um título à sua longa lista de conquistas: primeira surfista a tornar-se profissional de ondas grandes, recorde mundial da maior onda surfada por uma mulher, ou maior onda surfada num ano, por homem ou mulher. Aconteceu na Nazaré, evidentemente, em 2020, quando surfou um "tsunami" com 22,4 metros de altura − e bateu o seu próprio recorde.

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Nem tudo foi um mar de rosas nesta ascensão, e o pior aconteceu em 2013, quando caiu brutalmente numa onda e foi arrastada durante largos minutos debaixo de água. Levou "muita pancada", perdeu o colete salva-vidas, perdeu os sentidos e chegou a pensar, ela e todas as pessoas que assistiam, "que perdia a vida". A recuperação também não foi fácil e obrigou a três cirurgias, duas delas às costas, mas nem por um momento pensou em desistir: "queria muito regressar, até porque estávamos no início deste desporto. Era tudo novo e queria provar que as mulheres também podiam fazer parte [da modalidade]". Foi já depois do acidente, e não antes, que se mudou do Havai para a Nazaré, para estar mais perto destas ondas.

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A sua coragem, determinação, e o seu papel em defesa das mulheres no desporto foram reconhecidos pela Tag Heuer  − cujo lema, recorde-se, é "Don't crack under pressure" −, que a convidou, há sete anos, para sua embaixadora internacional. Quando começou a praticar a modalidade, há cerca de 16 anos, Maya foi a primeira surfista profissional de ondas gigantes. Hoje, continuam a não ser muitas, mas "existe já competição feminina e rankings, o desporto cresceu muito", reconhece, embora ainda continue "dominado pelo masculino". Uma verdade facilmente aplicável à maioria dos desportos onde os homens acabam por ter mais oportunidades, "especialmente em patrocínios, a nossa principal fonte de receitas". Mas esse panorama está a mudar, e "só o facto de estar hoje aqui a falar com uma atleta mulher, e não um homem, já é um bom indicador disso mesmo."

Além das ondas e dos riscos, Maya Gabeira partilha com muitos dos seus colegas masculinos uma paixão enorme por relógios, que não dispensa dentro e fora de água. "Uso pouquíssimas joias, e quando uso normalmente perco-as" admite, "então, o relógio é a melhor joia para mim".

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Aliás, se dúvidas houvessem sobre a enorme polivalência do relógio que trouxe para a festa, o Aquaracer Date Automatic 32 mm (com bracelete em aço bicolor, banhado a ouro), ficámos a saber que foi o mesmo que levou para o mar nessa manhã, "hoje estive a surfar com ele, e agora estou aqui. É versátil, superconfortável, a bracelete é muito maleável, é leve, resistente…"

Maya admite que os relógios não eram uma paixão antiga. "Sempre ficava admirando, mas nunca tinha comprado nenhum bom relógio". Mas agora, ao fim de sete anos como embaixadora da Tag Heuer, já conseguiu juntar uma boa coleção. Especialmente de Aquaracers, como é natural, mas também Carrera e um Link, "como este é mais pequeno e delicado, não uso para surfar, é mais para sair".

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O que também não estava no radar da jovem Maya era o surf, porque nesses tempos tinha o sonho de ser bailarina. Foi só aos 14 anos que experimentou umas ondas na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, e as sapatilhas de pontas foram rapidamente trocadas pelas pranchas. Três anos mais tarde, mudou-se para o Havai e foi lá que descobriu o prazer de surfar ondas cada vez maiores. "Talvez fosse pela vontade de superação, mas desde aí que sabia que era isso que queria". A sua destreza no Banzai Pipleline, na costa norte de Oahu, começou a atrair patrocinadores dando-lhe a hipótese de ser tornar profissional e surfar em todos os grandes spots do mundo. Jaws, também no Havai, Mavericks, na Califórnia, e Teahupo'o, no Taiti, são os preferidos se não contarmos com a Nazaré, porque "a Nazaré é a mais poderosa".

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Curiosamente – e contrariamente à perceção de quem assiste de fora −, o tempo dentro de uma onda "corre bem devagar. Estão tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que tudo aquilo tem de diminuir". É isso que a experiência a surfar ondas grandes traz, "essa capacidade de nos concentrarmos e entrar em câmara lenta, para conseguir tomar as decisões certas, no tempo certo". E depois? "Depois é uma descarga de adrenalina enorme. Caindo ou não, a descarga é sempre gigante." E é isso que os leva rapidamente de volta para a prancha e para mais uma onda gigante.

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