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Como o novo coronavírus está a mudar as regras da pornografia

Como em todas as áreas, também a da indústria pornográfica está a sofrer alterações com a disseminação do Covid-19, que levou o mundo a permanecer em casa. E não se trata apenas de mais afluência aos sites e plataformas de streaming.

Foto: Ani Kolleshi / Unsplash
25 de março de 2020 | Rita Silva Avelar

O novo coronavírus, cujos primeiros casos surgiram em Wuhan, na província chinesa de Hubei, instalou-se no mundo a uma velocidade irrefreável. São raros os países onde o Covid-19 ainda não chegou, e alguns daqueles a que chegou estão longe de controlar a situação. É certo que o isolamento social (ou a quarentena obrigatória) levou a mudanças nas nossas rotinas diárias, uma vez que nos leva a permanecer em casa sem (quase nenhum) contacto com o mundo exterior. Tal como noutras esferas da nossa vida, também a vida sexual sofreu mudanças. E uma das áreas em que essas transformações se tornaram evidentes de forma muito rápida foi a da indústria pornográfica.

A nova situação que vivemos afetou não só a quantidade e o tipo de pornografia produzida, como também a quantidade de pornografia que as pessoas estão a consumir e o que estão procurar nos principais sites, conclui Justin J Lehmiller especialista e investigador na área do sexo, e autor do livro The Myths of Sex, num artigo publicado no site Psychology Today.

Por exemplo, como relatado pelo site Pornhub, o tráfego tem aumentado constantemente em março, à medida que a pandemia se alastrou e o estado de emergência se foi instituindo nas principais cidades e países do mundo. Indo ao detalhe, e como revelado neste artigo da publicação americana, no dia 17 de março (a data mais recente para a qual há dados disponíveis) o tráfego no PornHub aumentou 11,6 por cento.

Uma das "medidas" que o PornHub tomou, segundo noticia o site National Review, foi de dar livre acesso aos conteúdos privilegiados (de assinatura) a Itália, França e Espanha, no passado dia 13 de março. Nos dias em que os acessos premium foram dados nestes países, o tráfego em cada país aumentou em 57%, 38% e 61%, respetivamente. No dia 17 de março, o tráfego mundial aumentou 26,4%.

Segundo o especialista Justin J Lehmiller, estas alterações de tráfego podem dever-se ao facto de "algumas pessoas estarem a usar o sexo como um mecanismo para lidar com o medo de contágio e o medo da morte." No seu livro The Psychology of Human Sexuality, Justin J Lehmiller explora essa reação em particular a uma situação de medo, à luz da sexualidade e em particular da teoria da gestão do terror, uma teoria da psicologia social, que explica o fenómeno. "Quando nos lembramos da nossa própria mortalidade, alteramos subconscientemente as nossas atitudes e comportamentos para nos ajudar a lidar com a perspetiva aterradora da nossa eventual morte", sublinha. As investigações levadas a cabo nesta área, do ponto de vista biológico, concluem que essas alterações podem levar a comportamentos e desejos sexuais, como mecanismos de defesa e proteção perante uma situação que põe a mortalidade como uma hipótese próxima.

Mas as conclusões deste investigador vão mais longe. Além de as pessoas estarem a ver mais pornografia, as métricas do PornHub também revelam que há pelo menos 9 milhões de pesquisas relacionadas com a palavra "coronavírus" e há pelo menos 1000 vídeos que surgem na pesquisa quando se procura pela palavra. O resultado visual? Surpreendentemente, ou não, evidencia-se, nos vídeos, o recurso a máscaras, luvas cirúrgicas e fatos usados quando se manuseiam materiais perigosos. A explicação parece ser simples, segundo o autor deste artigo. "A resposta é semelhante à razão pela qual as pessoas também tendem a procurar pornografia de férias durante todo o ano: reflete a nossa necessidade constante de novidade sexual e a capacidade dos humanos de encontrar fétiche em praticamente tudo." Ou seja, acontece, por exemplo, em datas comemorativas como o Dia dos Namorados, o Halloween ou o Natal.

Neste caso em particular e sem precedentes, as pessoas parecem estar a erotizar o medo. Isto acontece porque, segundo tem evidenciado a comunidade científica, as emoções fortes são facilmente confundidas com a atração sexual. Como exemplifica este artigo, quando as pessoas se dedicam a atividades que produzem emoções fortes - como andar de montanha-russa ou saltar para uma piscina de um ponto alto - e depois encontram um estranho fisionomicamente atraente, a atração por essa pessoa aumenta. Os estados relacionados com o medo têm, assim, o poder de amplificar a excitação e a atração sexual, conclui o especialista. À escala das situação em que vivemos, este mecanismo pode ativar-se perante a exposição televisiva de profissionais que usam estes equipamentos; logo, se existirem traços fisionómicos apelativos nestas pessoas, os efeitos serão os mesmos do exemplo acima mencionado.

No artigo Will the Porn Industry Be Disrupted by Coronavirus? publicado no início de março pela revista Rolling Stone, aponta-se outro fenómeno emergente na área da pornografia, que é o da crescente preocupação dos atores pornográficos, que não pretendem expor-se ao risco do vírus de forma alguma. Tal como noutras indústrias, também esta sofrerá as suas quebras financeiras a curto e médio prazo.  

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