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Será que as bitcoins são mesmo as maiores inimigas do meio-ambiente?

De acordo com um índice da Universidade de Cambridge, se a bitcoin fosse um país estaria entre as 30 nações mais consumidoras em todo o mundo. Mas esta é a única indústria do mundo a usar, na sua maioria, energias renováveis. Que contradições se encontram no que toca ao tema da mineração de bitcoins e sua poluição, relativamente a outros sistemas?

Foto: Getty Images
13 de maio de 2021 | Rita Silva Avelar

Nunca as criptomoedas foram tão debatidas, apesar de já existirem há anos. O sucesso deve-se à crescente valorização da bitcoin em particular, que vale, à data deste artigo, 46 092,08 milhares de dólares. Mas não esqueçamos que além de este ser um negócio económico, é também um negócio que impacta o mundo em várias áreas, nomeadamente a ambiental. O que não se diz, é que a energia usada para minerar as bitcoins é de origem renovável e que em relação a outros sistemas é muito menos poluente.

De acordo com o Cambrigde Bitcoin Electricity Consumption Index (CBECI), a mineração de bitcoins (o processo pelo qual novas bitcoins são introduzidas em circulação em todo o mundo) gasta 137 Twh (terawatts) anuais. Segundo cáculos com base dados da Redes Energéticas Nacionais feitos pelo ECO, este consumo é quase 2,5 vezes mais do que o consumo anual de eletricidade de Portugal. Também o site Digiconomist faz contas, mas transatlânticas: uma única transação de bitcoin utiliza a mesma quantidade de energia que um eletrodoméstico americano médio consome num mês, e é responsável por cerca de um milhão de vezes mais emissões de carbono do que uma única transação Visa, escreve o The New York Times.

Mas há um outro lado desta indústria. Como explica Pedro Costa, que trabalha nesta área, sim, "é poluente por vários motivos, apesar da maioria da energia usada para minerar ser reutilizável, há uma parte que vem de combustíveis fósseis (em toda a China 60% da energia das farms provém de fonte renovável e 40% de combustíveis fósseis) não só isso como os próprios aparelhos computacionais, placas gráficas, ventoinhas de refrigeração e outros componentes eletrónicos ao tornarem-se inutilizáveis, transformam-se em lixo" explica Pedro Costa, que se interessou pela área das criptomoedas antes de se ter popularizado como hoje. "Nada de novo na nossa sociedade, na verdade o facto da maioria da energia utilizada ser renovável é a grande novidade, em mais nenhuma indústria desta escala isso acontece, e a tendência é que esses 60% passem a 100% nos próximos 10 anos" esclarece. "Além disso, já há empresas a trabalhar na tentativa de reutilizar os próprios componentes eletrónicos que se tornam lixo. E isso acontece tão rapidamente porque a eficiência energética é recompensada na rede de bitcoin (blockchain)."

Pedro explica o processo com um exemplo simples: "quanto menos energia um computador gastar para resolver um problema, mais lucro o minerador vai ter. Quanto menos recursos gastar e mais barata for a energia (e como todos sabemos a energia mais barata é a energia renovável) melhor para o minerador. Se a indústria energética e financeira que existe há mais de 200 anos tivessem 1/10 da eficácia e vontade de mudar as coisas para melhor que esta nova indústria de criptomoedas tem, já tínhamos deixado de usar combustível fóssil há pelo menos 50 anos. Mas ainda aqui estamos a falar do impacto ambiental de uma tecnologia que quer ser verde mas que não encontra uma estrutura no sistema atual que lhe permita fazer isso." 

Existe mais propaganda em torno dos aspetos negativos da bitcoin, em prol dos positivos, explica ainda Pedro Costa. Isto porque "há uma discussão porque o velho sistema que nunca tentou tornar-se verde em 200 anos de existência, se sente agora ameaçado", porque a blockchain é uma indústria que permite descentralização de vários serviços. "Entre eles o sistema bancário. Que é só o tecido que sustenta a nossa sociedade moderna. Óbvio que um sistema que controla e monopoliza o mundo há séculos, não vai deixar ser ultrapassado sem pelo menos dar luta. Mas é uma luta desigual, e um sistema antigo, lento e extremamente sujeito a ser explorado e corrompido por ação humana, nunca pode ser concorrência para um sistema descentralizado como o blockchain de bitcoins, por exemplo. Que é um livro de contas aberto ao público, onde todas as transferências estão guardadas e podem ser consultadas por qualquer pessoa com acesso à internet."

O especialista admite ainda que há muito por falar nesta área. "É um mundo novo, com péssima publicidade, e com razão, admito, a própria comunidade é maioritariamente tóxica e machista, mas as coisas estão a começar a mudar. Vejo muito mais mulheres no espaço, e já há muito mais material educativo do que quando entrei. No fundo também este espaço é um reflexo da nossa sociedade e do mundo em que vivemos, mas existe esperança num futuro melhor e a tecnologia está aqui para nos ajudar e não para nos prejudicar, mas tudo depende de como nós a usamos e se a usamos ou não."

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