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Brasil enfrenta pior época de fogos dos últimos 10 anos

Só este mês, mais de 10 000 incêndios foram avistados na Amazónia, embora o presidente brasileiro negue a sua existência por completo.

Incêndio na reserva florestal da Amazónia no município de Novo Progresso, no estado do Pará, a 16 de Agosto
Incêndio na reserva florestal da Amazónia no município de Novo Progresso, no estado do Pará, a 16 de Agosto Foto: Getty Images
21 de agosto de 2020 | Vitória Amaral

Precisamente um ano depois de os incêndios na Amazónia despoletarem uma crise internacional, os novos números levam os especialistas a crer que 2020 poderá ser ainda pior. Na primeira semana do mês de agosto já tinham deflagrado mais de 10 mil incêndios na floresta da Amazónia, conhecida como o pulmão da Terra. Uma análise feita pela Greenpeace no Brasil mostrou um aumento de 81% dos fogos nas reservas federais em comparação com os anos anteriores. "Este é um resultado direto da falta de política ambiental por parte do governo" disse Rômulo Batista, da Greenpeace Brasil, ao jornal The Guardian. Na região do Pantanal brasileiro, as chamas destruíram cerca de 10% de toda a sua cobertura vegetal, eliminando também pelo menos 70% do maior refúgio mundial de araras-azuis, uma das várias espécies ameaçadas que sofreram perdas irreversíveis.

Jair Bolsonaro limitou-se a desmentir as notícias. O presidente brasileiro discursou na semana passada para outros líderes de países sul-americanos que pertencem ao Pacto de Leticia, um acordo feito para a proteção da Amazónia. Bolsonaro também os convidou a sobrevoar a floresta entre as cidades interiores de Boa Vista e Manaus, já que "não veriam chama alguma". Além de, segundo o presidente brasileiro, não poderem haver incêndios na Amazónia por se tratar de uma área húmida, este também garante que a maioria da sua área se mantém intocada pelas chamas.

No total, entre julho de 2019 e julho de 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelou que a desflorestação na Amazónia aumentou 34,5%, servindo apenas dois propósitos: expandir a indústria agrícola ou extrair madeira valiosa. A Greenpeace revelou que entre os municípios brasileiros mais afetados pelos incêndios nos últimos tempos estavam as áreas que mais gado produzem no país, calculando ainda que cerca de 80% dos terrenos desflorestados estejam destinados ao pastoreio.

No entanto, a indústria brasileira da carne está sob grande pressão para impedir a criação de gado em zonas ilegalmente "desmatadas". Cândido Bracher, do Itaú Unibanco (o maior banco do Brasil), disse ao jornal Estadão que este não iria financiar empresas ligadas à desflorestação. O Itaú Unibanco faz parte do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que tem estado em contacto com o vice-presidente Hamilton Mourão, membros do Supremo Tribunal e do Congresso Nacional Brasileiro para exigir medidas claras que protejam a Amazónia, neutralizando as figuras políticas anti ambientalistas.

O governo de Bolsonaro tem sido incapaz de controlar o aumento da desflorestação, salvo uma operação militar lançada pela mesma em maio. Intitulada de "Operação Verde Brasil 2" e liderada por Mourão, o Ministério da Defesa garante que já foram apreendidos 14 mil metros cúbicos de madeira ilegal e aplicados cerca de 15 milhões de euros em multas no período mais propenso aos incêndios (de maio a novembro), o que muitos creem tratar-se apenas de mais uma manobra de propaganda.

Até à data, ninguém foi responsabilizado por aquele que ficou conhecido como "Dia do Fogo" (10 de agosto de 2019), em que os fogos triplicaram no estado do Pará, mais concretamente na área do Novo Progresso, seguindo-se por 638 incêndios registados nos primeiros 10 dias do mês.

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