Prazeres / Sabores

Milionário brasileiro faz vinhos de topo no Douro

Rubens Menin e Cristiano Gomes prepararam-se para produzir uma gama de vinhos de topo no Douro. A escolha demorada e pormenorizada das quintas e das vinhas velhas foram os primeiros passos da Menin Douro Estates.

 João Rosa Alves, Rubens Menim, Cristiano Gomes e Tiago Alves de Sousa, da Menim Douro Estates.
João Rosa Alves, Rubens Menim, Cristiano Gomes e Tiago Alves de Sousa, da Menim Douro Estates. Foto: D.R
01 de outubro de 2021 | Augusto Freitas de Sousa

Entende-se a meta de produzir 360 mil litros em 2025. O terreno daria para mais vinho, mas o foco da nova empresa, a Menin Douro Estates, é apostar na qualidade e nos segmentos superiores para comercializar vinhos de gama alta. Os primeiros vinhos lançados recentemente foram o Douro's New Legacy Reserva 2018 e o Menin Reserva Tinto 2019. Dois vinhos tintos do Douro que são a face visível deste novo projeto protagonizado pelos empresários brasileiros Rubens Menin e Cristiano Gomes.

Inicialmente compraram duas quintas, Quinta da Costa de Cima e Quinta do Sol, a que agora chamam Quinta da Costa de Cima e Sol, em Gouvinhas, Sabrosa, no Cimo Corgo com cerca de 72 hectares. Nestas quintas, junto às margens do Douro, há 11 hectares de vinhas velhas plantadas há mais de 100 anos com mais de 60 castas identificadas. A empresa adquiriu, entretanto, mais quintas no Baixo Corgo ao empresário Horta Osório que totalizam 55 hectares. Até agora já foram gastos mais de 30 milhões de euros e o empresário Rubens Menin, que está na lista da revista Forbes dos mais ricos do mundo, admite reforçar a quantia.

Vinho Douro's New Legacy Reserva 2018, da Menin Douro Estates.
Vinho Douro's New Legacy Reserva 2018, da Menin Douro Estates. Foto: O Revelador

O administrador Cristiano Gomes vem da área financeira e do imobiliário e Rubens Menin é conhecido no Brasil por estar à frente de um grupo económico que inclui a construtora MRV, o Banco Inter, a rede de televisão CNN Brasil e empresas de logística e urbanização. Foi a construir casas para os mais desfavorecidos que Rubens Menin lançou o seu império. O empresário garante que sempre sentiu "o dever e o desejo de devolver à sociedade, de alguma forma, os benefícios aos quais tinha tido acesso". Rubens salienta que dar às pessoas a possibilidade de ter uma casa, foi a forma que encontrou "de construir um Brasil mais justo, com menos desigualdade social". A mesma responsabilidade social que garante manter em todas as empresas que fundou.

Não podia ter outra profissão e formação. Rubens Menin vem de uma família que o treinou desde cedo para seguir o mesmo ramo. Mãe, pai e dois dos três irmãos são engenheiros, o que tornou quase inevitável que aos 22 anos tenha fundado a sua primeira empresa, a MRV. Atualmente gere parte das suas atividades no Brasil, nos Estados Unidos e em Portugal com a Menin Douro Estates. Assume ser dinâmico, mas só consegue estar atento e ter informação sobre todos os negócios porque tem "o apoio de equipas de muita qualidade em todas as empresas".

Rubens Menim e Cristiano Gomes, fundadores da Menin Douro Estates.
Rubens Menim e Cristiano Gomes, fundadores da Menin Douro Estates. Foto: D.R

O Douro surgiu como o primeiro investimento na área, apesar de ter sido sempre "um apreciador apaixonado pelo mundo do vinho". Não tem dúvidas que "a região é magnifica" com "a terra perfeita para as vinhas velhas que produzem um dos vinhos mais apreciados pelos entendedores". Rubens Menin recorda que quando Cristiano Gomes se mudou para Portugal e conversaram sobre vinhos e regiões portugueses decidiram estudar o mercado, as diversas regiões de referência no velho mundo, e concluíram que "o Douro tem já uma qualidade comparável às melhores regiões, mas ainda é economicamente promissora, pois tem imenso espaço de reconhecimento internacional".

A Quinta da Costa e Sol, em Gouvinhas, Sabrosa, no Cimo Corgo.
A Quinta da Costa e Sol, em Gouvinhas, Sabrosa, no Cimo Corgo. Foto: D.R

A ascendência portuguesa e o regresso às origens deram uma ajuda na escolha, mas a compra das primeiras quintas resultou de "uma procura cercada de cuidados, com muita calma e com muitos requisitos, a começar pela potencialidade das vinhas e a localização". Acabaram, acrescenta, "por encontrar um sítio excecional, somado a uma extensão rara de vinhas velhas".

O empresário reconhece que "seria inócuo pegar em algo pronto e simplesmente dar continuidade". Propõe-se contribuir para o crescimento da região com inovação e respeito ao legado histórico e acredita que está "exatamente nesse caminho". Relativamente à aposta nas gamas superior a resposta é simples: "O potencial de qualidade da região é tão grande que seria um desperdício não buscarmos o melhor possível".

Rubens Menin esclarece que o primeiro passo é ser reconhecido como um "player importante em Portugal" e, paralelamente, estabelecer uma base no Brasil, onde espera ter "um mercado significativo, mas não exclusivo". Lembra-se que no início da busca, e logo após a primeira aquisição, ouviu "muitas estórias sobre os brasileiros aventureiros que pouco sabiam de vinhos". Refere que hoje isso já não acontece e que ganharam o respeito do mercado pela seriedade com que têm trabalhado. A empresa tem parcerias a serem desenvolvidas nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Europa comunitária.

Vinhas à beira do rio Douro.
Vinhas à beira do rio Douro. Foto: D.R

O investidor assume-se "uma pessoa de hábitos simples". Quando está em casa, em Belo Horizonte, levanta-se cedo, faz exercício físico e vai trabalhar para o escritório da MRV. Tem reuniões de trabalho com as empresas, com o Banco Inter e a CNN Brasil, viaja com alguma frequência para os Estados Unidos e, mais recentemente, para Portugal. Rubens Menin ainda não definiu o tempo que passará por cá, mas garante que vai cá estar "cada vez com mais frequência, já que a Menin Douro Estates está em franco crescimento".

Dos primeiros vinhos da empresa lançados recentemente, cerca de 60% do Douro's New Legacy Reserva 2018 provém de vinha velha com cerca de um século e os restantes da casta Touriga Franca, com 45 anos. Está no mercado a cerca de 100 euros e, alguns "furos" abaixo, o Menin Reserva Tinto 2019, com um preço de 18 euros, que nasce de uma seleção de diferentes parcelas, também com 10% de uvas de vinhas velhas e Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Amarela.

Barricas de vinho da Menin Douro Estates.
Barricas de vinho da Menin Douro Estates. Foto: D.R

A enologia está a cargo de João Rosa Alves, residente, e a consultadoria de Tiago Alves de Sousa. A Menin Douro Estates, que ainda tem a sua adega em construção, desde julho de 2020, vai propor uma produção regular de vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC) com tintos, colheita, reserva e grande reserva, e brancos colheita e reserva. Este ano ainda vão ser lançados os grande reserva branco e tinto. Por último, o Porto tawny e LBV: haverá séries especiais, edições vintage no Porto, e um topo de gama com uma pequena quantidade e produzido apenas em algumas vindimas. Este ano de 2021 vai ser uma delas.

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