Prazeres / Lugares

Quatro dias a atravessar o Gerês em bicicleta, uma aventura diferente para este verão

Percorremos a Grande Rota Peneda-Geres de ponta a ponta, a pedalar durante quase 200 km em bicicletas elétricas de montanha, num passeio com passagem pelos mais emblemáticos locais do único Parque Nacional português, mas também com muitas descobertas pelo meio.

Parte do trilho GR 50 no Parque Nacional Peneda-Gerês.
Parte do trilho GR 50 no Parque Nacional Peneda-Gerês. Foto: GR Gerês
20 de agosto de 2021 | Miguel Judas

É uma proposta no mínimo desafiante, a da empresa Tobogã, que criou um roteiro alternativo, em bicicleta, à recém-inaugurada GR 50, uma grande rota pedestre, com cerca de 200 km de extensão, ao longo do Parque Nacional Peneda-Gerês. "O objetivo é dar a conhecer o Parque Nacional na sua totalidade, de uma forma autêntica e personalizada", explicou à MUST Manuel Costa, um dos responsáveis desta empresa sediada em Entre-Ambos-os-Rios, no concelho de Ponte da Barca, que além da travessia do PNPG, disponibiliza também passeios de um dia, bem como atividades de canyoning e stand up paddle nos rios e albufeiras da região. A travessia de bicicleta demora normalmente cinco dias, mas no entanto é possível faze-la em menos tempo, ajustando o percurso aos desejos dos clientes, como no nosso caso, em que necessitámos apenas de quatro etapas para percorrer o único Parque Nacional de ponta a ponta em registo autoguiado, ou seja, com recurso a um road-book em GPS fornecido pela empresa, mas quem o desejar também pode ser acompanhado por um guia.

O preço é de 800 euros por pessoa e inclui o alojamento, em unidades de turismo rural, bem como todo o equipamento necessário (capacetes, luvas, mochilas, óculos). Quanto à bicicleta, é uma KTM Macina Kapoho elétrica com suspensão total. Ou como sublinha Manuel Costa, "um verdadeiro topo de gama, que permite percorrer grandes distâncias e troços mais técnicos sempre com bastante conforto e uma ótima gestão de esforço", sempre de acordo com a forma física de cada um.

Miradouro do Mirante Velho, Terras de Bouro
Miradouro do Mirante Velho, Terras de Bouro Foto: Miguel Judas

1ª ETAPA

Tourém a São Lourenço

Marco fronteiriço nº67 entre Espanha e Portugal, junto à Aldeia de Pitões das Júnias, Montalegre.
Marco fronteiriço nº67 entre Espanha e Portugal, junto à Aldeia de Pitões das Júnias, Montalegre. Foto: Miguel Judas

É mesmo junto a Espanha, na aldeia de Tourém, concelho de Montalegre, no extremo leste do Parque Nacional, que a aventura tem início. Sempre monte acima, seguimos em direção ao Alto do Pisco, numa primeira amostra das vistas panorâmicas que nos esperam ao longo dos próximos dias. O estradão percorre a linha de fronteira, como se percebe pela presença do marco fronteiriço nº 67, junto ao qual é possível ter um pé em Portugal e outro em Espanha. O objetivo seguinte é a histórica aldeia de Pitões das Júnias, onde é obrigatória uma paragem, não só para apreciar o típico casario em pedra, como para repor energias na padaria da aldeia, famosa na região pelos brioches e pelas bolas de Berlim.

O trajeto continua agora por uma estrada de terra, ao longo do planalto da Mourela, com passagem pela bonita paisagem da Turfeira do Poço das Rãs, em direção a Paredes do Rio, uma das mais bem preservadas aldeias das Terras de Barroso. Já depois de ultrapassada a Barragem da Paradela, inicia-se outro dos troços mais bonitos desta etapa, onde se impõem um pequeno desvio à cascata de Cela do Cavalo, para um retemperador mergulho antes de seguir caminho até à aldeia São Lourenço, o local de pernoita deste primeiro dia.

2ª ETAPA

São Lourenço a Campo do Gerês

Miradouro de Fafião, Montalegre
Miradouro de Fafião, Montalegre Foto: Miguel Judas

O dia tem início a descer, num emocionante downhill entre São Lourenço e Cabril. Cruzada a ponte sobre o rio Cávado, começa-se novamente a subir, num troço que a sombra das árvores torna bem mais fresco. Chegados a Fafião, é feito um novo desvio à rota, para subir até ao miradouro, um dos mais impressionantes de todo o Parque Nacional, por ficar situado no topo de um gigantesco bloco de granito, ligado a outro rochedo por uma pequena ponte de ferro, pouco aconselhável a quem sofra de vertigens. Feita a fotografia da ordem, é tempo de seguir, primeiro a descer, até à ponte junto à cascata, para depois voltar a subir, através de um inclinado caminho de terra, naquele que é um dos troços mais técnicos desta segunda etapa, onde pedalar uma bicicleta elétrica se revela, de facto, uma importante ajuda. Após a travessia de um troço tão isolado, não deixa de ser um choque a chegada a uma das zonas mais concorridas do Parque Nacional, como é a envolvente da Vila do Gerês, onde locais como a cascata do Arado ou o Miradouro da Pedra Bela atraem verdadeiras multidões. Bem diferente é o cenário encontrado no Mirante Velho, um dos muitos miradouros situados no bonito caminho entre a Vila do Gerês e a aldeia de Campo do Gerês, também ele de paragem obrigatória, para apreciar a vista panorâmica sobre a Albufeira da Caniçada. Já falta pouco, agora, para chegar a Campo de Gerês, a famosa e bem preservada aldeia onde concluímos a etapa.

ETAPA 3

Campo de Gerês a Soajo

Espigueiros do Soajo, Arcos de Valdevez.
Espigueiros do Soajo, Arcos de Valdevez. Foto: GR Gerês

A mais exigente das etapas tem início numa dos mais idílicos locais do Parque nacional, a Mata de Albergaria, constituída por um dos mais bem preservados exemplos de bosque de carvalhos galaico-portugueses. O acesso de carro é pago (custa um €1,5), mas a travessia a pé ou de bicicleta é gratuita e vale bem a pena. Ao longo do caminho subsistem ainda alguns marcos miliários da Geira Romana ou via XVIII, que ligava Bracara Augusta à Asturica Augusta, ao longo de pouco mais de 300 km e ainda hoje uma das estradas romanas melhor conservadas do noroeste da Península Ibérica.

Com a temperatura a aumentar à medida que a manhã avança, as cascatas e poços de São Miguel, no rio Homem, apresentam-se como uma tentação à qual é necessário resistir, porque ainda há muito para pedalar. Na Portela do Homem, entramos em território Espanhol, para subir, subir e subir, até ao miradouro de Santa Eufémia, ainda em território galego, para apreciar a vista a 360 graus, onde se destaca o Rio Lima e a albufeira da barragem do Alto-Lindoso. Segue-se aquele que porventura será o troço mais técnico de toda a travessia, para depois, já na suavidade do alcatrão, continuarmos até à histórica aldeia de Lindoso, famosa pelo castelo e pelos espigueiros. E daí, depois de cruzado o paredão da barragem, seguimos até à não menos monumental vila do Soajo, conhecida pelo monumental conjunto de espigueiros centenários, onde terminamos mais uma etapa.

ETAPA 4

Soajo a Ameijoeira

Santuário da Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez.
Santuário da Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez. Foto: GR Gerês

Apesar de ser em alcatrão, as constantes curvas da subida até ao Mezio revelam-se um desafio que os modos elétricos da bicicleta tornam mais fácil de superar. Não deixa portanto de ser um alívio, a chegada ao imponente miradouro do Tibo, que a cerca de 800 metros de altitude se revela uma das mais belas varandas para a serra e vale da Peneda. Lá ao longe, encaixado no topo do vale, vislumbra-se também o secular santuário da Senhora da Peneda, um dos objetivos desta etapa, onde chegaremos apenas algumas horas mais tarde, após outra exigente subida e que vale por si só uma visita a esta região. Bem mais descansada, é a descida para Lamas de Mouro, onde o frondoso bosque e o som da água corrente convidam a uma breve paragem. Não faltam aliás, nesta última etapa, locais assim, como é o caso da área de lazer das Veigas, que nos "obriga" a novo intervalo na jornada, antes da subida para Castro Laboreiro.

Já falta agora pouco para o final, mas mesmo assim ainda há tempo para um último desvio, neste caso a pé, para visitar a pitoresca Ponte Nova ou da Cava Velha, de origem romana, que, ali, no meio de nenhures, mais parece saída de um qualquer episódio da Guerra dos Tronos. Dali até à aldeia da Ameijoeira, a meta final desta travessia, já só falta um punhado de quilómetros, mas até poderiam ser muitos mais, que não nos importávamos de continuar...

Ponte Nova ou da Cava Velha, Castro Laboreiro.
Ponte Nova ou da Cava Velha, Castro Laboreiro. Foto: GR Gerês

Travessia de Bicicleta do PNPG

Extensão: 200 km

Duração: 5 dias

Desnível acumulado: 6500 m

Dificuldade Média/Alta

Preço: €800

Mais informações em portal.toboga.pt

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