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Euro 2020: resumo da jornada 1 para totós

Vitória portuguesa, empate espanhol, derrota alemã. O ‘totobola’ dos primeiros jogos do Euro 2020 ditou algumas surpresas num conjunto de doze jogos de bocejar e chorar por menos. O herói da jornada? Cristiano Ronaldo, é claro.

Cristiano Ronaldo no jogo de estreia da seleção portuguesa no Euro 2020, com a Hungria 
Cristiano Ronaldo no jogo de estreia da seleção portuguesa no Euro 2020, com a Hungria  Foto: Getty Images
17 de junho de 2021 | Áureo Soares
Imagine o leitor que sai do seu emprego pelas 17h, faz o banal trajeto até casa e decide, já bem depois das 18h30, sair ao café da rua para espreitar o jogo de estreia da seleção portuguesa no Euro 2020, com a Hungria. Faltam uns meros 15 minutos para o final da partida e as estatísticas (cerca de 70% de posse de bola, mais cantos, mais remates) contradizem o resultado: 0-0. De repente, como se a pátria de Camões e de Ronaldo tivesse acabado de encontrar a cura para a covid-19, uma multidão de catorze almas levanta-se num urro a festejar esse estranho fenómeno chamado golo de Raphaël Guerreiro.

Três minutos depois, Cristiano ultrapassa Michel Platini na lista de melhores marcadores em europeus de futebol. E cinco minutos passados, 
Ronaldo aumenta a conta, num momento em que Ljubomir Stanisic certamente coloca as mãos no ar em jeito de pistolas enquanto exclama Pow Pow Pow. 3-0 para Por-tu-gal.

Num Euro que decorre em 2021 mas que conta para o ano civil de 2020, os adeptos têm assistido a um futebol quase revolucionário. Completada a primeira jornada desta fase de grupos, fomos testemunhas da estreia da Macedónia do Norte (derrota por 3-1 frente à Áustria), que, agora que foi aceite pela UEFA, poderá considerar-se finalmente um país. E até a França contrariou esse antigo adágio de Gary Lineker. É que o futebol pode ser um jogo simples, de noventa minutos, mas no fim nem sempre ganha a Alemanha.

Os mais distraídos poderiam ser levados a pensar que era este precisamente o grande embate da primeira jornada. No entanto, aos olhos de quem gosta do "jogo bonito", o França x Alemanha foi tão excitante quanto uma partida de curling. Os franceses bem tentaram varrer o campo mas a bola só acertou no alvo através de um autogolo de Matts Hummels. A piada é fácil: mesmo quando perde é a Alemanha quem marca. Em suma, ultrapassados os germânicos, a seleção francesa parece estar a preparar-se para provar novamente a superioridade do multiculturalismo num país que pende cada vez mais para os braços da senhora Le Pen.

A outra partida teoricamente emocionante da primeira jornada, o Espanha x Suécia, levou-nos também pelo caminho da desilusão. Constituída por jovens promessas desconhecidas e alguns veteranos de cujos nomes não nos lembramos, a Espanha de Luis Enrique parece apostada em provar que mesmo a pátria das tapas e do flamenco pode apenas sugerir-nos uma siesta. Não há adjetivos suficientemente assertivos para qualificar a performance de nuestros hermanos.

Nem Guardiola, o impulsionador do tiki-taka, alguma vez sonharia ver a seleção espanhola com 86% de posse de bola, 90% de precisão de passe e uns redondos zero golos marcados. Demérito de uns, sorte do submarino azul e amarelo sueco, que nunca se amedrontou perante o tridente ofensivo dos rojos - Ferran Torres,  Álvaro Morata, Dani Olmo – e voltou sempre à tona.

O Euro 2020 ficará para a história como o primeiro europeu em que não há um país organizador. 

De Amesterdão a Sevilha, são onze as cidades europeias que recebem partidas desta primeira fase, o que o transforma também no Europeu em que as equipas terão de viajar mais. A Suíça, neste particular, baterá todos os recordes. A estreia dos helvéticos, contra o País de Gales, aconteceu precisamente em Baku, no Azerbaijão, onde a equipa de Xhaka, Shaqiri e Seferovic empatou (1-1) com o País de Gales de Gareth Bale.  

Na cidade de Pedro, o Grande, São Petersburgo, a Rússia perdeu naturalmente para a Bélgica (3-0). A Ocidente, na capital britânica, a Inglaterra venceu a Croácia (1-0) e, também a jogar em casa, os Países Baixos bateram a Ucrânia por 3-2. Em Dublin, a seleção de Lewandowski mais dez, também conhecida por Polónia, não conseguiu melhor do que marcar um golo contra dois da Eslováquia. 

E se a abertura do torneio, em Roma, num jogo que opôs os italianos à Turquia (3-0), teve na clássica interpretação de Nessun Dorma pelo tenor Andrea Bocelli um dos pontos altos, as boas notícias após a tragédia estavam guardadas para o dia seguinte, durante o Dinamarca x Finlândia (0-1), com a recuperação do atleta Christian Eriksen após uma paragem cardíaca em campo. Como tudo está bem quando acaba bem, só falta uma vitória portuguesa frente à Alemanha este sábado. Será pedir muito?
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