Prazeres / Master Pieces

E Deus criou a Mulher

Para que não fique a acreditar que a mulher mais sensual do mundo é Monica Bellucci, mostramos-lhe outras que, muito antes dela, deram a volta ao mundo e à cabeça dos homens. A escolha não foi fácil. Eis, então, cinco verdadeiras obras-primas da Natureza.

Foto: Getty Images
13 de maio de 2020 | Eduardo Câmara

Erótica
Disparou uma das frases mais pequenas desde que existe o cinema sonoro, em Um Milhão de Anos Antes de Cristo, de 1966, mas a norte-americana Raquel Welch não precisou de mais para se ter tornado, instantaneamente, o indiscutível símbolo sexual dos EUA, das décadas de 60 e de 70. É fácil adivinhar a razão, a avaliar por esta imagem. Bastou aparecer num biquíni esfarrapado, em pele de gamo, para que fosse catapultada para a fama e para que o poster de promoção do filme fosse o mais vendido até hoje, nesse género, e ainda para que o biquíni tivesse tido nela o maior veículo de divulgação, na América. Mais: mudou o estereótipo de sex symbol loura e muito voluptuosa dos anos 50 e inícios dos 60, para o da mulher morena, magra, curvilínea e exótica, a que também se deve a ascendência mexicana. De uma beleza e de uma sensualidade invulgares, Raquel Welch mostrou ser bem mais do que isso, apesar de os 35 filmes em que participou não terem sido propriamente concorrentes ao Óscar. Ainda assim, ganhou o Globo de Ouro para a Melhor Actriz por Os Três Mosqueteiros, em 1975, e foi nomeada na mesma categoria pela mini-série Right to Die, em 1988. Ainda está no activo e não perdeu o estatuto de uma das mulheres mais belas do mundo.

Raquel Welch
Raquel Welch Foto: Getty Images

Misteriosa
Quatro anos antes de Raquel Welch se ter tornado um sex symbol por aparecer em biquíni num filme, já a suíça Ursula Andress tinha conquistado a fama ao sair do mar exibindo um duas peças na pele da Bond girl Honey Ryder, em 007 – Agente Secreto, o primeiro filme do mais indiscreto agente secreto, em 1962. Ursula fez mais furor do que Sean Connery, apesar de a sua participação no filme ter sido efémera. O júri dos Globos de Ouro, maioritariamente masculino como é de esperar, distinguiu-a como a estreante mais promissora. Apesar da promessa, Ursula Andress tornou-se mais famosa pelos homens na sua vida e por ser uma presença ubíqua do jet set europeu da década de 1970. A frieza inicial da sua beleza esvaiu-se à medida que foi amadurecendo na idade, atingindo o zénite naqueles anos. De todos os filmes (com títulos sugestivos como Picante… Mas Não Muito) são o de James Bond e O Que Há de Novo Gatinha?, escrito e interpretado por Woody Allen, que merecem ser recordados. Temos de reconhecer que Ursula conseguiu percorrer grande parte da carreira como um símbolo sexual incontestado numa época em que o Cinema estava recheado de mulheres invulgarmente bonitas.

Ursula Andress
Ursula Andress Foto: Getty Images

Sensual
Aqui está um dos últimos grandes símbolos sexuais e uma das últimas verdadeiras estrelas de cinema: Brigitte Bardot. Apesar e se ter notabilizado pela beleza que arrebatou as gerações europeias dos anos 50, 60 e 70, Brigitte tem no seu palmarés rabalhos com realizadores como Godard, Malle, Cocteau ou Vadim.Oriunda da burguesia francesa, tem uma beleza que é um misto de inocência, de sensualidade e de pecado. Até um ligeiro estrabismo lhe fica bem. Foi de tal modo relevante para França, sobretudo na divulgação do país e do seu cinema quando foi trabalhar para os EUA, que serviu de modelo para a Marianne, o busto da República. Apesar de uma vida sentimental algo atribulada, Brigitte manteve sempre aquele estatuto de menina-de-boas-famílias, o qual não foi minimamente afectado pelas cenas de nu ou eróticas. O impacto sexual que gerou no público masculino contribuiu para que as plateias dos cinemas com os seus filmes, bons ou menos bons, ficassem sempre repletas de homens. E Deus Criou a Mulher é o título que melhor define esta francesa que ficou para sempre conhecida por B.B. E não traduzimos o que os portugueses fizeram destas iniciais…

Brigitte Bardot
Brigitte Bardot Foto: Getty Images

Magnética
É, provavelmente, a ruiva mais "explosiva" de Hollywood. Ann-Margret é a sueca que não corresponde ao estereótipo da mulher do seu país natal. Começou a carreira cinematográfica fazendo transparecer a imagem da girl next door, mas depressa passou a ser um símbolo sexual e a merecer o título de sex kitten. As formas mais sinuosas do corpo e a jovialidade com que contracenava em filmes de Série B não ajudavam a reconhecê-la como uma actriz de mão-cheia. Foi preciso duas nomeações para os Óscares de Melhor Actriz principal e secundária, em Iniciação Carnal (1972) e Tommy (1976), para que lhe fosse reconhecido o estatuto de actriz. Entre 1962 e 1999, foi dez vezes nomeada nos Globos de Ouro, nessas categorias, tendo vencido em metade delas. Foi em Tommy que reconfirmou o seu talento como cantora, algo que lhe era inato e que lhe garantiu espectáculos em Las Vegas e programas televisivos que foram exibidos na década de 70, em Portugal. O seu primeiro contrato foi assinado, curiosamente, com a RCA, que lhe editou o single I Just Don’t Understand, que foi um tremendo sucesso de vendas. Este ano participa no filme Papa e não se ficará por aqui.

Ann-Margret
Ann-Margret Foto: Getty Images

Irresistível
Digamos que a alemã Elke Sommer terá sido a melhor importação dos Estados Unidos, na década de 60. Também ela teve de mostrar que era bem mais do que uma cara e do que um corpo bonito, ainda que nunca se tenha livrado do rótulo de sex kitten. Apesar do ar jovial e algo inocente, Elke triunfou, devido à sua beleza sexualizada, tanto na Europa como nos EUA. Ainda assim, e apesar de ter sido uma eterna actriz de suporte, conseguiu destacar-se em filmes como The Prize (1963), com Paul Newman, pelo qual foi premiada com um Globo de Ouro para a melhor revelação. Dividindo-se entre filmes dramáticos e comédias, Elke Sommer conseguiu uma carreira mais estável na Televisão quando a qualidade dos seus filmes se foi deteriorando. A sua mais recente participação no Cinema pode ser vista em A Thousand Kisses, de 2017. A sensualidade e a construção da imagem de uma mulher sofisticada contribuíram, por sua vez, para eliminar a possível imagem de uma mulher teutónica gélida. Curiosamente, é das poucas actrizes que se revelaram, fora dos ecrãs, como escritoras e artistas plásticas. O louro dos cabelos foi uma imposição cinematográfica. Piadas machistas à parte…

Elke Sommer
Elke Sommer Foto: Getty Images

Belíssima
É esta a mulher que rivaliza, ainda, com Sophia Loren. São as duas italianas que, até hoje, não conseguem encontrar rivais em termos de beleza, de estatuto, de riqueza e de longevidade de fama. Diz Loren que a rivalidade entre as duas mais não foi do que uma "guerrilha" inventada pelos agentes de ambas para agitar os media da época. Gina Lollobrigida, ou La Lollo ou, ainda, La Lollobrigida foi o sonho erótico de homens europeus e norte-americanos nas décadas de 50 e de 60. Foi entronizada como A Mulher Mais Bela do Mundo após o filme homónimo (1955). Antes brilhou em Beat de Devil (1953), de John Houston, com Humphrey Bogart. A eroticidade da sua beleza também lhe valeu um terceiro prémio no concurso Miss Itália, em 1947. Os dois primeiros lugares foram atribuídos a Lucia Bosé e a Gianna Maria Canale que brilharam no Cinema, mas não conseguiram a supremacia de Lollobrigida. O desempenho no filme Come September (1961), com Rock Hudson, mereceu-lhe o Globo de Ouro na categoria de World’s Film Favorite. Foi nomeada duas vezes, a última das quais pela série Falcon Crest. É uma das raras actrizes muito famosas que sabe multiplicar a fortuna que ganhou ao longo da carreira. Paralelamente à carreira cinematográfica, Lollobrigida revelou-se como uma exímia fotógrafa e escultora. Disse um dia que tendo estudado essas duas artes, ter sido actriz foi um erro. E que bom erro, na verdade.

Gina Lollobrigida
Gina Lollobrigida Foto: Getty Images

Sedutora
Mais uma italiana "explosiva". Os olhos (fulminantes) são a imagem de marca de Claudia Cardinale que, tal como outras actrizes italianas, abriu o caminho para o estrelato cinematográfico pela via de concursos de beleza. Um deles deu-lhe a oportunidade de ter pequenos papéis em filmes que foram esquecidos até encontrar um lugar à altura em Rocco e Seus Irmãos e O Leopardo, de Visconti. É das actrizes italianas que mais se distinguiram nas décadas de 50 a 70, a que tem conseguido manter uma carreira cinematográfica quase ininterrupta nos últimos 60 anos. Está para breve a estreia de Piccolina Bella, no qual é a protagonista. Os americanos que naquelas décadas deliravam com as actrizes italianas descobriram nela um novo símbolo sexual quando foi a protagonista do filme de Sergio Leone, Era Uma Vez no Oeste (1968), com Henry Fonda. Em Franchie King (1971), um western spaghetti, eclipsou a deusa europeia Brigitte Bardot. Foi a época de maior esplendor de Cardinale. Basta olhar para esta fotografia e acreditar que Deus, afinal, é mesmo italiano…

Claudia Cardinale
Claudia Cardinale Foto: Getty Images
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