Prazeres / Lugares

A grande febre do jogo

Quem viu Macau e quem a vê. Da serenidade de uma antiga colónia ao atual cosmopolitismo futurista e algo kitsch, é o local ideal para passar umas férias diferentes. Para quem goste de casinos, claro.

Em Skyfall (2012), o casino fictício que serviu para a cena entre Daniel Craig e Bérénice Marlohe.
Em Skyfall (2012), o casino fictício que serviu para a cena entre Daniel Craig e Bérénice Marlohe. Foto: D.R.
05 de março de 2020 | Fernando Sobral

Longe vão tempos em que Ian Fleming, o criador de James Bond, escreveu em Thrilling Cities que em Macau, onde esteve no início da década de 60, "o Hotel Central não é precisamente um hotel. É um arranha-céus de nove andares, o mais alto edifício de Macau. (…) Quando mais sobes no edifício, mais bonitas e caras são as raparigas, mais altas as apostas nas mesas de jogo, melhor é a música". Macau mudou muito, desde então. Mas o jogo continuou a ser o centro da sua economia. Todos correm para os casinos, desde os mais afamados até aos menos vistosos. Alguns jogadores, ostentando a sua riqueza, chegam de helicóptero. Outros apanham o jet-foil que liga Hong Kong a Macau e vêm desafiar a sorte. Todos os anos são milhões de visitantes, ricos e pobres, que fazem uma peregrinação até ao pequeno território que para albergar tantos casinos imponentes fez um aterro entre as ilhas de Coloane e da Taipa (algo que é conhecido, agora, como faixa Cotai). Os templos do jogo são brilhantes, cheios de lojas de marcas, de quartos de hotel, de restaurantes para todos os gostos e, claro, de salas para jogadores VIP. Por estes dias, Macau é maior do que Las Vegas. O jogo hipnotiza e faz com que muitos caiam na tentação de pedir dinheiro emprestado para jogar. Mas as lojas de penhores já não são tão visíveis como outrora. Os jogadores começam a ser diferentes. Seja como for, o dinheiro circula em grandes quantidades. Os chineses adoram jogar e Macau é o seu destino preferido.

Os casinos de Macau, na imagem, excedem a imaginação do Cinema.
Os casinos de Macau, na imagem, excedem a imaginação do Cinema. Foto: Getty Images

Depois de anos em que o jogo em Macau esteve dominado por Stanley Ho, a liberalização das licenças trouxe até ao território gigantes americanos como Steve Wynn, a MGM e a Las Vegas Sands, de Sheldon Adelson. O crescimento económico da China, nos últimos anos, ajudou a compor a festa. Muitos chineses, que nunca poderiam vir jogar, puderam entrar em casinos que foram feitos para deslumbrar e fazer sonhar. Em 2001, apenas 3 milhões de visitantes se deslocavam até Macau. Agora, chegam aos quase 30 milhões e a maioria vem da China continental, onde nasceu uma imponente classe média. Nos dias mais concorridos, como os do novo ano chinês, cerca de 120 mil turistas atravessam as portas de um dos mais deslumbrantes casinos de Macau, o Venetian, onde há gôndolas em que os turistas gostam de fazer selfies. Tudo é exótico. E tudo é pensado para o consumidor chinês. Afinal, o jogo é um negócio muito sério. Muitos dos jogadores que levam o desafio da "sorte e do azar" a sério e que vêm do continente não têm problemas de liquidez. As salas VIP estão à sua espera. E também das suas famílias. Por isso têm todo o tipo de diversões. O Venetian, por exemplo, já teve como convidada Beyoncé e tem o seu espectáculo do Cirque du Soleil. David Beckham fez um vídeo a promover este casino em que aparecia como se fosse James Bond. O slogan do vídeo promocional era: Never Settle. O Studio City, da Melco Crown, também não fez uma aposta menos forte: Martin Scorsese realizou um pequeno filme de promoção, com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro. A última estrela desta constelação de casinos é o MGM Cotai Macau que abriu no início de 2018, com 1.400 quartos. Tem diferentes restaurantes, piscina, spa, ginásio, uma sala de espectáculo e também uma importante colecção de arte. Em 2017 abriu o The Macau Roosevelt, um complexo de cinco estrelas e em 2018 nasceu um novo ícone: o Morpheus, um projecto de mil milhões de dólares em louvor do Deus dos sonhos. A torre teve a assinatura da falecida arquitecta Zaha Hadid e terá 780 quartos. A ideia é ter cada vez mais quartos porque com a construção de infra-estruturas (como a ponte que ligará Hong Kong a Macau e a Zhuhai) haverá cada vez mais turistas da China continental a procurar o território. Conquistar os VIP chineses é cada vez mais o objetivo. Macau é a cidade dos sonhos para quem gosta de jogar. Ou de sonhar com os tempos em que aventuras de 007 decorriam ali. Mas os seus clientes são cada vez mais sofisticados e com maior poder de compra. E os gigantescos e sofisticados hotéis e casinos são o paraíso que todos desejam encontrar. 

Artigo originalmente publicado na edição de julho de 2018 da MUST

 

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