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Os encantos de Sessa

Nascido em São Paulo, Sérgio Sayeg soa melódico, magnético “como um encantador de serpentes”, capaz de transmitir serenidade na sua voz de embalo. Grandeza é o seu primeiro disco a solo.

Foto: Gabriel Basile.
18 de março de 2020 | Rita Silva Avelar

Há anos que músico brasileiro Sérgio Sayeg, que adotou o nome artístico de Sessa, corre os palcos do mundo. Fundador do duo psych-funk Garotas Suecas e colaborador regular do guitarrista nova-iorquino Yonatan Gat, Sessa ganhou mundo com experiências musicais dentro e fora do Brasil. "Eu sinto-me como se fosse um aprendiz da música, da poesia, da canção (…) é algo que me magnetiza. A música deu-me uma nova forma de ver a vida, trouxe-me oportunidades de me expressar" começa por contar, em entrevista à MUST. "Eu recebi muito da nossa cultura brasileira, por isso é quase como se ela já não coubesse mais em mim e precisasse de fazer a minha versão" revela, sobre este primeiro projeto que esteve "no forno" seis anos.

Sessa é o nome artístico de Sérgio Sayeg.
Sessa é o nome artístico de Sérgio Sayeg. Foto: Helena Wolfenson

Durante esse período, foi gravando pequenos fragmentos daquilo a que viria a ser Grandeza, o álbum que lançou a solo pela Boiled Records, em junho do ano passado. "O disco acabou por ter uma qualidade um pouco ‘nomádica’, porque aconteceu no meio de uma tourneé, tive que arranjar um tempo para escrever as músicas e juntar bandas "na hora" e requisitava estúdios durante dois dias, em que gravava o máximo que podia. Fiz isso ao longo de seis anos" revela.

A paixão de Sérgio Sayeg pela música nasce da sua curiosidade durante a pré-adolescência e, como explica, não foi para si fácil perceber que este seria o seu caminho profissional. "Eu comecei a interessar-me por música por volta dos 12 ou 13 anos. Os meus pais não são músicos, lembro-me de ouvir alguns dos seus discos, e tenho algumas memórias. A música foi algo que eu fui encontrando na cidade, um pouco sozinho, começando a tocar e conhecendo gente que tocava" explica. "Eu sempre tive uma relação com a música num sentido em que esse universo me chamava muito. A verdade é que demorei um pouco a entender que seria a minha vida. Eu tinha muito curiosidade sobre os discos, os instrumentos, as histórias, na minha pré-adolescência." Nessa fase, ouvia artistas de slow music, como Irma Thomas, Otis Redding, Sly & the Family Stone, mas também de bandas de rock n’ rol como The Stooges, MC ou Jimmy Hendrix. Se prestarmos atenção, conseguimos ouvir ecos dessas influências na sua poesia musical, para lá do peso evidente da expressão cantautoral brasileira.

As letras de Flor do Real, Infinitamente Nu, Tesão Central, Gata Mágica ou Órgia aludem ao erotismo e ao amor.
As letras de Flor do Real, Infinitamente Nu, Tesão Central, Gata Mágica ou Órgia aludem ao erotismo e ao amor.

 Sobre o nome do disco, Grandeza, o artista explica que "acaba por ser uma forma não óbvia de usar a palavra, que não se expressa apenas acerca do tamanho de determinada coisa. É como se fosse um grande sentimento, um sentimento amplo que atravessa todas as sensações que o disco comunica." Em Grandeza, o artista de São Paulo fala sobre amor, nas sua variadas formas, com letras que percorrem os abecedários do romantismo ao erotismo. Aliás, basta ouvir as letras de Flor do Real, Infinitamente Nu, Tesão Central, Gata Mágica ou Órgia, bons exemplos.

"[As letras] têm muito a ver com o toque, o tato, a pele… as relações humanas vistas de uma perspetiva otimista, da vocação para o amor" explica, ressaltando que na música, no geral,  "não faltam argumentos para ilustrar o nosso lado mais cruel, [por isso] quis mostrar o nosso lado mais social e cuidadoso uns com os outros. Grandeza tenta apontar (…) para uma matéria menos pragmáticas, e mais para ideias que têm um sentido mais aberto, e não tão numérico."

Sobre os entraves da indústria musical brasileira, explica que embora a mesma seja "muito celebrada" e que hoje em dia "esteja tocando Tom Jobim em qualquer parte do mundo (…) talvez o que falte no Brasil seja o reconhecimento legítimo por conta das instituições, digamos assim, mainstream, como o Governo." E diz ainda que é preciso que o Brasil entenda qude "a cultura é um caminho e um lugar importante para a sociedade." Questionado sobre quem admira, na música portuguesa, não hesita. "Gosto muito do B Fachada. Também gosto muito do Carlos Paredes." E a quem cantaria um disco de homenagem? "Faria um disco de homenagem ao Erasmo Carlos."

A capa do disco Grandeza, o primeiro projeto a solo de Sessa.
A capa do disco Grandeza, o primeiro projeto a solo de Sessa.

Com edição para o mercado português, em formato vinil, via Lovers & Lollypops, o registo pode ser ouvido também no bandcamp da editora. Dado à situação de saúde pública que neste momento afeta o país, a estreia do músico brasileiro em Portugal será adiada para o final do ano. A devolução dos bilhetes para os concertos agendados em abril já se encontra disponível.

 

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