Prazeres / Sabores

Vinhos. Orange is the new… branco

A chegada ao mercado de alguns novos brancos de Curtimenta foi a desculpa ideal para explorar estes vinhos brancos tão especiais, e mostrar alguns dos melhores exemplos no nosso país.

Foto: Pexels
14 de março de 2023 | Bruno Lobo

Nos últimos anos tem-se falado muito em vinhos brancos de curtimenta, ou vinhos laranja, mas poucas pessoas sabem realmente o que isso significa. E, no entanto, pode ser explicado em poucas palavras. Os curtimenta são vinhos brancos cujo mosto - ou seja, o sumo da uva acabada de espremer, antes da fermentação - vai precisamente fermentar em contacto com as películas e o engaço.

No fundo é o processo normal nos vinhos tintos, razão pela qual adquirem a cor vermelha-escura, ou no caso dos rosé, em que o contacto é muito curto, aquela cor rosa mais ou menos pálida. Nos brancos, pelo contrário, o mosto fermenta sem essas partes sólidas e, por isso, apresentam uma cor mais límpida entre o transparente e o verde ou ganham um tom mais dourado pela presença de madeira. Será por isso, também, que se pode fazer branco a partir de uvas tintas − uma vez que não existe a transferência de cor.

Como seria de esperar, este contacto vai marcar o vinho e alterar radicalmente o seu caráter, e podemos dizer que os brancos de curtimenta são geralmente mais rústicos, com uma acidez mais evidente e um menor teor alcoólico. Como passam a ter taninos, ganham ainda algum corpo.

O tempo de curtimenta, ou seja de contacto entre o mosto e as partes vegetais sólidas, pode variar enormemente entre os vinhos, e vai de algumas horas a vários dias o que, obviamente, também vai afetar o vinho.

A mudança mais evidente, como já se percebeu, ocorre na cor do vinho, que ganha tons mais amarelos, âmbar e até laranja. Foi o que levou um importador inglês chamado David Harvey, a usar essa expressão em 2004: Orange Wines. E o termo pegou.

Ultimamente existe ainda um movimento que procura colar os vinhos laranja, de curtimenta, aos vinhos naturais, feitos com o mínimo de intervenção na vinha e na adega. Realizados sem adição de qualquer componente química, leveduras ou sulfitos, e sem filtração, para "não se retiraram componentes naturais que  favorecem a complexidade do vinho" como defendem. Muitas vezes, até, sem controlo de temperatura durante a fermentação e o estágio. Sem entramos nas vantagens ou desvantagens do método, o certo é que o sistema não estava na mente do britânico David Harvey quando cunhou o termo, há quase 20 anos. Pelo que não faz sentido misturar conceitos. Assim, não havendo nada que impeça um vinho orange de ser natural, também não há nada que o obrigue.

Quinta De Santa Teresa Curtimenta 2022

A Quinta de Santa Teresa fica na sub-região de Baião, o habitat mais natural da casta Avesso, que dá corpo a este branco de curtimenta, de tons âmbar bastante alaranjados. Fermentou com películas durante 12 dias em cuba, leveduras indígenas e controlo de temperatura, tendo depois parte do vinho estagiado em madeira, e a restante em cubas. Surpreende pela rusticidade típica dos taninos, o que compensa com uma boca muito macia. Teor alcoólico de 12,5%. Perfeito para acompanhar pratos mais picantes. €12,50 

Quinta De Santa Teresa Curtimenta 2022.
Quinta De Santa Teresa Curtimenta 2022. Foto: D.R

Casa Relvas ART.TERRA Curtimenta 2022

Produzido a partir de Arinto e Antão Vaz. Acidez e corpo. Teve fermentação em lagar com os bagos inteiros, para contacto com a pele, maceração durante 8 dias e um estágio de 6 meses em barricas de carvalho francês usadas de 400 litros. O resultado é especial, muito intenso no nariz e no paladar, fresco com taninos suaves, perfeito para acompanhar tábuas de enchidos e queijos. €13 

Casa Relvas ART.TERRA Curtimenta 2022.
Casa Relvas ART.TERRA Curtimenta 2022. Foto: D.R

Mainova Moinante Dupla Curtimenta

Desta jovem produtora alentejana chegam-nos dois brancos de Curtimenta. Ambos com fermentação espontânea e sem controlo de temperatura. Um, o Moinante Curtimenta, estagia com três dias de contacto pelicular e o outro, Dupla Curtimenta, durante seis. O primeiro será talvez o ideal para uma estreia neste género de vinhos, mas é no segundo que o método atinge a sua melhor expressão. Um vinho profundamente gastronómico, capaz de acompanhar os mais diversos pratos. €18,50 e €19,90 

Mainova Moinante Dupla Curtimenta.
Mainova Moinante Dupla Curtimenta. Foto: D.R

Anselmo Mendes Curtimenta Alvarinho 2021

Do Sr Alvarinho, chega-nos este Curtimenta, precisamente "para explorar ao máximo o potencial da casta Alvarinho". A fermentação com as películas decorreu apenas durante algumas horas, mas foram as suficientes para dar uma cor mais forte ao vinho, mais taninos e estrutura de boca. A acidez é bem fresca. Um vinho para beber já ou guardar uns bons 15 anos e sentir a evolução. €24 

Anselmo Mendes Curtimenta Alvarinho 2021.
Anselmo Mendes Curtimenta Alvarinho 2021. Foto: D.R

Poças Fora da Série Orange 2021

Um Orange surpreendentemente fresco e aromático, do Douro Superior, feito a partir das castas Arinto e Códega. Maceração pelicular durante um mês e fermentação em barrica usada. O envelhecimento passou ainda por barricas velhas de carvalho francês de 300 litros, durante 10 meses. O perfil é aromático e envolvente, com muita fruta amarela. Bom volume de boca, acidez e taninos equilibrados. Volume alcoólico de 11,5%. €22 

Poças Fora da Série Orange 2021.
Poças Fora da Série Orange 2021. Foto: D.R

Cartuxa branco 2017 Vinho de Curtimenta

Elaborado com uvas de uma vinha velha repleta de castas tradicionais, como Arinto, Roupeiro, Trincadeira das Pratas. Fernão Pires e Malvasia Rei. Estagiaram com curtimenta completa, ou seja, com a totalidade da uva, durante 29 dias a uma temperatura controlada de 14 graus. Um vinho de caráter quase ancestral, perfeito para acompanhar pratos mais intensos e assados portugueses. €44,99 
Cartuxa branco 2017 Vinho de Curtimenta.
Cartuxa branco 2017 Vinho de Curtimenta. Foto: D.R
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